26 de julho de 2024
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Em nota, família e amigos de Danilo pedem respeito à memória do estudante

Eles criticam comentários 'maldosos' contra o jovem assassinado

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Os familiares e amigos de Danilo Cezar de Jesus Santos, de 29 anos, assassinado no domingo (5.mar), por Railson de Melo Ponte, de 27 anos, emitiram nesta 5ª.feira (9.mar.23) uma nota à imprensa, pedindo que não sejam produzidas matérias por meio do “jornalismo declaratório” — técnica de escrita jornalística com base apenas nas declarações de fontes — nesse caso, do suspeito. 

A nota é assinada por uma rede de apoio aos familiares de Danilo, formada voluntariamente por amigos, parentes, colegas e professores da vítima.

No documento, eles criticam comentários "maldosos" a respeito de Danilo. E observam que a versão apresentada por Ronilson é repleta de contradições, segundo disseram os investigadores. 

Mais cedo mostramos aqui no MS Notícias, que a polícia acredita que Ronilson matou Danilo em razão de o jovem ser homossexual. Também estão sendo consideradas linhas de latrocínio — já que Ronilson ficou com os pertences do jovem, após o assassinato. Ronilso foi preso em flagrante na 4ª.feira (8.mar), sob acusação de ocultação de cadáver. 

Nesta 6ª.feira (10.mar.23) o suspeito deve passar por audiência de custódia. A polícia disse que já pediu à Justiça a prisão preventiva de Ronilson. 

A nota da família de Danilo, saiu logo após matérias jornalísticas reportarem ao público a versão de Ronilson sobre o dia do assassinato. No documento, é detelhado qual era a personalidade de Danilo, rebatendo acusações feitas pelo assassino confesso. 

Veja a íntegra da nota emitida à imprensa:  

Diante dos inúmeros comentários maldosos a respeito de Danilo, acreditamos que não seja producente ou respeitoso, para com a memória da vítima, divulgar com destaque as falas do autor do crime em tom de “jornalismo declaratório”, já que a própria investigação aponta contradições em seu depoimento e, sobretudo, porque Danilo não está presente materialmente para dar sua versão.

É importante ressaltar que Danilo era um jovem dedicado e de trajetória exemplar, que veio da periferia e tinha o sonho de melhorar a vida de sua mãe, uma trabalhadora doméstica que se dedicou ao máximo à educação do filho. Aluno aplicado, Danilo conseguiu cursar mestrado com bolsa e pretendia seguir a carreira acadêmica com doutorado.

Além disso, a vítima também era uma pessoa extremamente solidária e acolhedora, que fazia da ajuda ao próximo sua missão de vida. Matérias e comentários que questionem a recepção dada por Danilo a uma pessoa em situação de rua são insensíveis em relação ao modo como ele via o mundo, uma vez que suas convicções jamais permitiriam negar auxílio a quem o abordasse alegando precisar de ajuda.

Danilo tinha uma potência intelectual extraordinária. No mestrado em Antropologia Social, investigava o cotidiano de estudantes brasileiros/as de medicina na cidade de Pedro Juan Caballero (PY), na fronteira Paraguai-Brasil, além de ter sido pesquisador no grupo que formulou o dossiê para o registro de patrimônio imaterial nacional do Banho de São João em Corumbá e Ladário. 

Como relatou seu orientador, Dr. Álvaro Banducci Jr., "sempre foi uma pessoa sensível e prestativa, além de humilde por comportamento e origem. Perde a Antropologia do MS, perdem os estudos fronteiriços, chora o São João".

Danilo sempre foi responsável com suas obrigações, dentro de casa, na universidade e nas tarefas que desempenhava. A professora Dra. Mara Aline Ribeiro reforça a competência e dedicação de Danilo. "Um aluno excelente, um bolsista do CNPq. Um cara comprometido, o histórico escolar dele comprova isso".

Danilo representa uma parte significativa e importante na vida daqueles que, com ele, compartilharam as experiências da vida vivida. Era sinônimo de gentileza, companheirismo e lealdade, com os amigos, com a família e com as suas causas. Pedimos respeito a sua memória, responsabilidade e compromisso com os desdobramentos da opinião pública.

No mais, é importante lembrar que Danilo prezava a não violência, era veementemente contra o assédio. Magro, de estrutura frágil, tinha consciência da sua vulnerabilidade. Ele costumava se manifestar ativamente contra qualquer tipo de discriminação, crime de ódio e intolerância. Conhecido na comunidade pela sua gentileza com os menos favorecidos, era amado e principalmente respeitado por todos que o conheciam.

São inúmeros os relatos de pessoas que tiveram a vida impactada positivamente pelas atitudes dele. Era carinhoso com os animais e sempre que possível encontrava forma de resgatá-los. Era cuidadoso e respeitoso com a mãe, tendo as iniciais da mesma tatuado no pulso. Tinha o sonho de transformar a vida dela através da educação, caminho que escolheu por aptidão. Era questionador, astuto e levava a ciência a sério.