O centenário de Vinicius de Moraes é festejado em Buenos Aires com exposição de fotos íntimas do "poetinha", onde aparece ao lado de figuras como Pablo Neruda, Pelé e Orson Welles.
Os acordes de "Garota de Ipanema", uma das canções mais conhecidas do mundo, com letra de Vinicius e música de Tom Jobim, embalam os visitantes que conferem a mostra, realizada num centro cultural do bairro portenho da Recoleta, um dos mais sofisticados da capital argentina.
A curadoria do tributo foi feita a quatro mãos, por duas mulheres argentinas: a premiada artista plástica e estilista Renata Schussheim e Marta Rodríguez Santamaría, ex-companheira de Vinicius.
"Levamos mais de um ano para darmos um tom festivo a esse espetáculo, como ele gostaria", comenta Schussheim, cujas pinturas e desenhos foram expostos na América Latina, Espanha, Itália, França e nos Estados Unidos.
A mostra conta com fotos ampliadas, algumas delas gigantescas, instalações de vídeo e documentários dedicados ao autor de "Insensatez", "A felicidade", "Berimbau" e "Tarde em Itapoã", em parceria com Toquinho, outro de seus grandes companheiros de trabalho.
Num dos painéis é possível ver o poeta, que foi diplomata do Brasil nos Estados Unidos, na França e no Uruguai, abraçado com "A Pérola Negra", apelido de Edson Arantes do Nascimento, e outros jogadores.
"Pelé veio jogar na Argentina, e Vinicius o convidou para seu show no Teatro Ópera. Todo o time foi. Eles tiveram de entrar pelas coxias, e a sala se cobriu de aplausos", conta Santamaría, que manteve uma relação de três anos com o artista e levou 70% das imagens para a exposição, todas de seu acervo pessoal.
A sala, uma das maiores do país, com 600 m², chama-se Cronopios, em evocação aos personagens de um romance do célebre escritor argentino Julio Cortázar, que também trocava cartas com Vinicius.
Ao fundo, atrás de um painel, esconde-se um dos momentos vibrantes da exposição. Como em um sonho, abre-se, diante dos olhos do visitante, um enorme telão com projeção digital das areias e o barulho do mar da praia de Ipanema no Rio de Janeiro.
Schussheim e Santamaría posam para fotos como se estivessem no bairro carioca, enquanto do outro lado se vê uma enorme tela com outra personalidade brasileira, Carmen Miranda, cantando em seus filmes de Hollywood.
"Isso é ter o Rio de Janeiro em Buenos Aires!", entusiasma-se Schussheim.
O espírito de Vinicius parece se movimentar pelo ar no compasso de suas composições de "bossa nova", movimento musical que ele ajudou a fundar ao lado de Jobim e João Gilberto.
"Vinicius queria saber quem havia musicalizado 'Orfeu da Conceição' (levado ao cinema por Marcel Camus em "Orfeu Negro") e um amigo o apresentou ao jovem Jobim", lembra Santamaría.
Em outro painel, Vinicius é visto com grandes figuras da literatura chilena, com os poetas Gabriela Mistral e Pablo Neruda, ambos ganhadores do Nobel de Literatura.
Na última sala da mostra, uma frase de Vinicius simboliza seu espírito "descontraído, como a exposição", nas palavras de Schussheim. "E a coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais", diz o poetinha.
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