25 de abril de 2024
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MS perde um dos gigantes de sua história jornalística: Moacyr de Castro Jorge

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Aos 64 anos, na manhã desta segunda-feira, 19, Moacir de Castro Jorge deu seu último suspiro, após três semanas internado no Hospital Proncor, especializado em doenças cardíacas. O jornalista que tantas histórias escreveu, de presença espirituosa, um olhar sagaz e o hábito incurável de fazer amizades, deixou além da mulher, dois filhos e netos, uma legião incontável de amigos e belos exemplos para quem quiser fazer de sua profissão um sentido digno de existência.

Quem conviveu com Moacir sabe de sua imensurável dimensão humana. Um de seus amigos e contemporâneos, o jornalista Edson Moraes, fez agora este relato, sob forte emoção:

“No ano de 1978, quando me mudei de Corumbá para Campo Grande, fui contratado pelo jornal A Tribuna, um novato entre os meios impressos de circulação diária que entrou num mercado monopolizado pelo Correio do Estado, Diário da Serra e Jornal da Manhã.

Dirigido pelos sócios Sérgio Cruz, que era deputado estadual do MDB, e o radialista Benedito de Paula Filho, o caçula pôs em sua equipe de jornalismo um excelente quadro de profissionais. Lá estavam, entre outros e outras, Moacir de Castro Jorge, Luiz Gonzaga Bezerra, Rosa Maria Félix, os diagramadores e cartunistas Grilo e Pardal (J. Arildo Stabullo), os fotógrafos Ney Vidal e Falcão, Lucimar Couto, o cronista social Luiz Carlos Feitosa, o inimitável repórter policial Kojak (Gerson de Torres Bandeira), Carlos Roberto Zaparolli, e Mário Ramirez.

Tempos depois o jornal mudou seu nome para “Presença”, já sob o comando da família Coelho. Nesse tempo eu e o Moacir firmamos sólida amizade trabalhando juntos em várias reportagens que fizeram época, como no “caso Campanhã”, na peregrinação do profeta Gentileza, na maratona democratizadora de lideranças como Paulo Brossard, Teotônio Vilela, no corajoso protagonismo do cacique Mário Juruna e na temerária cobertura aos movimentos estudantis e intervenções de militantes de esquerda, alguns fichados pelas forças de repressão.

Depois cada um seguiu seu caminho, até que aconteceu o reencontro profissional nos anos 1990. Primeiro, entre 1995 e 1998, quando eu e o Moacir fazíamos os principais textos do Diário Oficial no governo de Pedro Pedrossian. O editor era Oscar Ramos Gaspar. Competia a mim e ao “Moaca”, como eu o chamava, criar os títulos e definir as matérias e chamadas e destaque. Era atividade diária, cansativa, com um Oscar Gaspar exigente e endoidecido...mas a dupla do D.O. não se abalava. O Moacir tinha sempre uma piada de improviso, sobretudo porque não dava bola para o tal do deadline. A edição estava atrasada para ir à gráfica e o Moaca estava lá conversando com as estrelas. E descia à terra sempre com uma solução.

Em 1995-96, fui nomeado pelo deputado estadual Roberto Orro, presidente da Assembleia Legislativa, para coordenador de Comunicação da Casa. Moacir era o meu adjunto. Mais dois anos de criações, atrapalhos e criacionices inventivas do Moaca. Éramos dois fumantes. Eu não tinha hábito de beber. Por isso, não era comum sair juntos para baladas e quetais. Contudo, éramos solidários um ao outro. Tínhamos defeitos bem parecidos. Éramos desligados de grandes ambições materiais. Não-raramente nos atrasávamos para os compromissos. Desorganizados. Ora dispersos, ora lúdicos. Contudo, nossas mentes febris não se cansavam de operar na busca exaustiva de conhecimentos.

O querido e qualificadíssimo profissional serviu a vários veículos da sociedade civil, órgãos públicos e entidades classistas: prefeitura de Campo Grande, Governo do Estado, Federação das Indústrias, Assembleia Legislativa. Foi redator e repórter de jornais como Correio do Estado, Tribuna e Diário da Serra. Trabalhou na TV Morena e por último estava à frente do Campo Grane Urgente.

Moacir, o Moaca, com certeza vai reportar-me a sensação de ser eterno. E sem ser breve. Porque seu bom-humor será sempre longevo. Inté Moaca!”