05 de dezembro de 2024
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ARTIGO

Coronavírus: infecção econômica

Aqui no Brasil também sentiremos os efeitos: o maior parceiro comercial do país é a China

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O ano começou com notícias de calamidades ao redor do mundo: incêndios consumindo a Austrália, forte terremoto no Caribe, chuvas destruidoras em Minas Gerais e, agora, um vírus mortal na China se espalhando pelo mundo. Fatos realmente preocupantes, que nos deixam solidários com as pessoas e atentos à prevenção. Mas quero chamar a atenção, também, para o potencial devastador deste último, sobretudo para economia brasileira, que está começando a se recuperar.

Na tarde da última quinta-feira, dia 30 de janeiro, os principais veículos de informação trouxeram a seguinte notícia: Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou estado de “emergência de saúde pública de interesse internacional”, por conta da infecção pelo novo coronavírus. Este severo alerta só foi utilizado anteriormente pela OMS na gripe H1N1 (2009), na poliomielite (2014), no contágio pelo zika vírus (2016) e na epidemia ebola, que atingiu a África Ocidental (2014-2016) e a República Democrática do Congo (desde 2018).

Os números são impressionantes: até o fechamento deste texto, 10 mil casos foram confirmados só na China. Mais de 210 mortes e quase mil pessoas em estado grave. Há registros de infectados em diversas partes do mundo e o Brasil está monitorando alguns suspeitos. O Ministério da Saúde passou a emitir boletins diários e está em contato com as secretarias de saúde de estados e municípios. A Fiocruz criou uma Sala de Situação em saúde para entender a doença, monitorar os casos e propor alternativas. A Santa Casa de Campo Grande definiu um fluxo de atendimento para casos suspeitos de coronavírus, que passam por um ambiente de isolamento com filtro HEPA de pressão negativa. Isso mostra que todos na área da saúde estão se mexendo.

Mas o alerta não deve ser somente de saúde pública. Deve ser, também, econômico. Um dia antes do anúncio da OMS, o importante jornal The Economist trouxe uma reportagem especial mostrando como a “semi quarentena” chinesa poderia abalar a economia mundial. As perspectivas não são boas, afetando desde o turismo até a produção de flores de plástico. É importante lembrar que diversas empresas, de todos os setores têm uma parte relevante de sua produção em solo chinês. Para piorar o estado de alerta, em 2019 a China representou 16% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, frente aos 4% em 2003, época em que a SARS (lembra dela?) também preocupou o planeta.

Aqui no Brasil também sentiremos os efeitos: o maior parceiro comercial do país é a China que compra, segundo dados do Ministério da Economia, quase 20% de tudo o que exportamos. O Mato Grosso do Sul é ainda mais dependente do país asiático: 41,5% de tudo o que vende lá fora vai para os chineses. Sem falar nos investimentos diretos destes parceiros em infraestrutura e energia. Resultado: queda na Bolsa de Valores brasileira, dólar renovando a maior alta nominal desde a criação do Real, alta nos juros futuros, pressão inflacionária.

Em algum momento a situação deve ser controlada e tudo voltará à normalidade. Mas este episódio e os outros relatados no início do texto evidenciam que o mundo está mais conectado, mais interdependente, menor. E o Carnaval que está chegando deve acender o alerta de que, se a alegria é contagiosa, o coronavírus também é, e pode acabar mais cedo com a festa, principalmente da recuperação econômica.

Autor: *Leandro Tortosa, coordenador do curso de Administração da UCDB