26 de abril de 2024
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CIÊNCIA

Pode levar até 10 anos para um medicamento chegar às prateleiras

Segundo o pesquisador em bioquímica, Octávio Luiz Franco, a criação de um medicamento passa por três grandes fases: entenda!

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A pandemia do novo coronavírus surpreendeu os cientistas de todo o mundo, que lutam contra o tempo em busca de soluções viáveis para a redução de transmissão e letalidade da doença. De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, considerando as etapas da pesquisa experimental e clínica, o tempo total de desenvolvimento de um novo medicamento pode ultrapassar 10 anos, sendo que de cada 10 mil moléculas testadas, apenas uma se torna um medicamento comercializado.

Segundo o pesquisador em bioquímica, Octávio Luiz Franco, a criação de um medicamento passa por três grandes fases, sendo a primeira, o teste em bancada, ou seja, dentro dos recipientes no laboratório. “Vou usar como exemplo os antimicrobianos, os quais eu trabalho há 20 anos. Primeiro criamos um composto A, B ou C e o testamos na bancada, contra a bactéria que queremos combater”, afirma Franco.

Cada fase da pesquisa tem uma importância essencial para o desenvolvimento do medicamento e pode demorar anos para ser concluída. Franco explica que depois das análises iniciais realizadas em laboratório, o composto mais bem sucedido deve ser testado em animais. “É a fase pré-clínica agora chamada também de não clínica, em que o medicamento é testado em animais, de preferência em roedores, para mostrar a efetividade do fármaco, se tem efeito colateral, a causa de uma possível mortalidade e a dose indicada por quilo”, exemplifica Franco.

É a construção da chamada janela terapêutica do medicamento, que mostra quais são as doses corretas de uso, da eficácia contra a doença à possível toxicidade do composto. Com os resultados em mãos, o composto passa para a última fase, a pesquisa clínica, em que o principal objetivo é testar o medicamento em seres humanos.

Apenas dentro da última etapa, o remédio pode ser aplicado em três fases, que variam de acordo com o número de pacientes participantes. “O pesquisador precisa ter respaldo científico para chegar nessa etapa, para evitar danos aos pacientes voluntários. Cada país tem uma norma específica de cada fase, que normalmente varia de acordo com o número de pessoas testadas, levando em consideração que os pacientes são divididos em dois grupos, os que recebem realmente e o outro que recebe o placebo, para excluir o nível psicológico de cura”, ressalta Franco.

Após os testes, os resultados aqui no Brasil devem ser apresentados à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que concede o aval final para que o medicamento seja comercializado

CORONAVÍRUS 

Apesar do longo tempo dedicado à pesquisa, em casos como o do novo coronavírus a espera pode ser menor, devido a gravidade da situação. Dessa forma, várias etapas podem ser aceleradas. Outro ponto que favorece é a cooperação entre cientistas de todo o mundo para encontrar uma resposta viável e que salve vidas. Franco, por exemplo, é coordenador do primeiro Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia implantado em Mato Grosso do Sul, por meio do Governo do Estado, Semagro, Fundect, CNPQ, Capes e Universidade Católica Dom Bosco.

No laboratório, uma equipe tem se dedicado a investigar antivirais que possam auxiliar no combate a Covid-19. A pesquisa em conjunto com a Universidade da Pensilvânia (EUA), tem estudado amostras de proteínas sintéticas produzidas a partir de informações do genoma de vespas, jararacas e cascavéis. Tais proteínas apresentaram atividades antivirais em estudos anteriormente realizados. “No nosso caso essa cooperação está funcionando muito bem, não só com os Estados Unidos, mas com pesquisadores de Lisboa, Hong Kong e Brasília. Ninguém está querendo ficar rico descobrindo a cura da Covid-19, mas em ajudar a diminuir a letalidade da doença. Se uma das coisas que eu estou desenvolvendo ajudar, já está bom para caramba, é a grande realização da minha carreira”, acredita o pesquisador.

Os pesquisadores trabalham em duas frentes. “Nesse caso estamos desenvolvendo duas frentes, uma para bloquear o vírus mesmo, com antivirais, não sei se essa é a mais acertada, mas é uma tentativa óbvia e a segunda é mexer com a resposta imune do paciente ao vírus. Essa eu tenho mais esperança. Ao invés de focar no vírus, focamos em diminuir o efeito imunológico dessa resposta ao pulmão, que é o que a gente chama de Síndrome Respiratória Aguda”, frisa.