20 de abril de 2024
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A 11 dias do prazo para o Governo concluir aquisição, em Sidrolândia índios consolidam retomada de 1

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Indiferentes a polêmica sobre o formato jurídico que o Governo Federal vai adotar para legalizar a compra dos 15,2 mil hectares localizados entre Dois Irmãos do Buriti e Sidrolândia, reivindicados como parte da Reserva Indígena Buriti, pelo menos 250 famílias terena das aldeias Tereré, Córrego do Meio e Lagoinha, estão empenhadas no processo de consolidação do que eles chamam de retomada e os fazendeiros definem como invasão.

Alguns índios que trabalham na Seara (4 ônibus vão diariamente as aldeias trazer e levar funcionário) só esperam o final do ano para pedir demissão e se dedicar cultivar o quinhão de terra que for destinado a sua família. Quem for desaldeado (morando na cidade) ou não esteve na linha de frente da luta pela terra, fica de fora do loteamento.

Sob a coordenação das lideranças, já se fez uma divisão provisória de 10 das 14 propriedades que estão de posse e aqueles que mostram aptidão e tem recursos para o trabalho com a terra. Estão criando gado, cultivam feijão, milho e melancia, que já rendeu pelo menos uma colheita que foi em parte comercializada.

As famílias da Lagoinha ficarão na Fazenda Cambará; as do Córrego do Meio, distribuídas em seis pequenas propriedades; na Fazenda 3-R há três anos foi criada a Aldeia 10 de Maio e a Fazenda Buriti, palco do confronto com a Polícia Federal em 30 de maio quando morreu Oziel Gabriel, ficou para os moradores da Aldeia Tereré. Na entrada das fazendas visitadas pela reportagem (Buriti e Cambará), foram fincadas placas informando tratar-se de terra indígena. Parte da mata foi derrubada para dar lugar as casas e lavouras.

Enquanto no lado de Dois Irmãos do Buriti todas as 17 propriedades já estão sob o controle dos índios, no lado sidrolandense da reserva, em quatro propriedades que somam aproximadamente 3 mil hectares, os fazendeiros continuam na administração: Cascata, Vassoura, São Sebastião, Água Clara e Estrela, que embora no município vizinho deve ser ocupada por terenas de Sidrolândia.

O cacique Antônio Aparecido, representante da Córrego do Meio e o seu colega Jurandir Gabriel, cacique da Lagoinha, deixam claro que os  índios estão respeitando a  trégua firmada na mesa de negociação com o governo federal e os fazendeiros de até 30 de novembro  não entrar, ou retomar como preferem denominar,  novas propriedades localizadas no perímetro que consideram como território terena.

Entretanto deixam claro que esta estratégia poderá ser revista caso o Ministério da Justiça não cumpra a parte dele no acordo, que é apresentar uma solução que ponha fim ao impasse com a incorporação definitiva dos 15 mil hectares a Reserva Indígena Buriti, que passará então a ter 17,2 mil hectares.

A possibilidade dos fazendeiros se armarem, contratarem segurança e para isto pretendem arrecadar recursos com a venda de gado em leilões, aparentemente não amedronta os índios que esperam contar com o reforço de “patrícios” de outras regiões para cobrar do Governo o compromisso de pôr fim a um conflito que se arrasta há mais de 10 anos e produziu pelo menos um cadáver, Oziel Gabriel, morto no último dia 30 de maio na Fazenda Buriti, em confronto com a Polícia Federal durante o processo de reintegração de posse.

Na Fazenda Cambará, propriedade de 1.200 hectares, estão concentradas 80 famílias da Aldeia Lagoinha.  Sob a liderança do vice cacique Marcelino Gabriel, já foi feito uma primeira colheita de melancia, o milho não rendeu o esperado porque da falta de chuva na época do desenvolvimento da planta, mas a lavoura foi replantada, junto com o feijão.

O trator que a comunidade recebeu do Governo do Estado foi usado no preparo da terra e o grupo se cotizou para comprar os 1.500 litros de óleo diesel utilizados. Ele reclama da falta de apoio tanto da FUNAI, quanto do Governo de um modo geral. “Não temos acesso ao crédito do banco para financiar o plantio”, reclama.

Os planos da comunidade são ambiciosos quando de fato a propriedade se tornar uma reserva indígena. “Além de agricultura e pecuária, vamos trabalhar para implantar um projeto de piscicultura. A fazenda tem água em abundância”, explica.

A sede da Cambará, que está parcialmente destelhada, com sinais de destruição no interior, o vice cacique imagina se ideal para abrigar uma unidade básica de saúde da comunidade, depois passar por reforma. Ele garante que os índios não foram responsáveis pelos estragos na casa principal e na residência menor, onde moravam os antigos funcionários.  “Um raio caiu sobre a rede elétrica, queimou o transformou e provocou um incêndio”, explica. O telhado teria sido destruído num vendaval que atingiu a propriedade.

O cacique da Córrego do Meio, Antônio Aparecido, também reclama da falta de apoio e aposta num projeto e parceria com a Embrapa para criar gado e desenvolver piscicultura nos 3.200 hectares  reservados à comunidade (a Córrego do Meio) . Ele espera viabilizar R$ 150 mil num projeto bancado pelos Ministérios da Pesca e do Desenvolvimento Social.

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