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POLÍTICA | NACIONAL

Bolsonaro "bota a cara no fogo"; dez prefeitos acendem o braseiro

Ribeiro é suspeito de autorizar a existência de "gabinete paralelo" da corrupção de pastores no governo

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) saiu em defesa de seu ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, durante live na internet na quinta-feira (25.mar.22). Ele afirmou que “bota a cara no fogo” pelo ministro.   

Ribeiro é suspeito de autorizar a existência de "gabinete paralelo" e facilitar liberação de recursos para pastores amigos de Jair Bolsonaro, a pedido do presidente. Em um áudio vazado, que mostramos aqui no MS Notícias, Ribeiro diz para prefeitos que, a pedido de Bolsonaro, os pastores Gilmar dos Santos (Presidente da Igreja Assembleia de Deus de Missão de Todos os Santos) e Arilton Moura (Igreja Assembleia de Deus de Missão de Todos os Santos) intermediavam os repasses de verbas do MEC. Ribeiro depois negou o conteúdo do áudio, apesar de um integrante da reunião ser a fonte do Estadão, que vazou o áudio após a situação de corrupção no MEC.  

Atestando a denúncia, pelo menos dez prefeitos já afirmaram que os pastores atuaram na intermediação de recursos ou no acesso direto ao ministro da Educação, Milton Ribeiro. Desse grupo, três já admitiram que ouviram pedido de propina em troca da liberação de verbas federais para escolas. Eles serão intimados a prestar depoimento à Polícia Federal.

(Brasília - DF, 25/04/2019) Presidente Jair Bolsonaro durante encontro com Pastor Gilmar dos Santos, Presidente da Igreja Assembleia de Deus de Missão de Todos os Santos; Pastor Airton Moura Correia, Igreja Assembleia de Deus de Missão de Todos os Santos e Pastor José do Nascimento Pires Sampaio Junior, Igreja Assembleia de Deus de Missão de Todos os Santos. Foto: Marcos Corrêa/PR

Segundo a denúncia, o esquema era operado no MEC para facilitar a liberação de recursos no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O prefeito do município de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga, contou que lhe pediram propina em ouro. Ele se referia ao pastor Arilton Moura que atuava em parceria com o também pastor Gilmar Santos. 

“Ele [Arilton] disse que tinha que ver a nossa demanda, de R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar [a demanda no MEC]. E, na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto, X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu 1 quilo de ouro”. Na quinta-feira, 24, Braga divulgou nota pública confirmando a denúncia publicada pelo Estadão. A Nota: 

"A respeito das notícias envolvendo seu nome em diversos veículos de comunicação, o prefeito de Luís Domingues, Estado do Maranhão, Gilberto Braga, vem a público dizer que confirma o teor das declarações dadas ao jornalista Breno Pires, de "O Estadão".

Alude que, por não ter parecido suficientemente claro – até porque tratou-se de uma conversa telefônica – que em nenhum momento deu qualquer crédito às supostas propostas do pastor Arilton Moura, tendo-as como mais uma das inúmeras propostas de “vendedores” de facilidades e/ou “fazedores” de milagres que povoam Brasília e que ganham a vida assediando os mais diversos gestores públicos.

Assim, por não acreditar na “inusitada” conversa em ambiente público, não efetuou qualquer depósito na conta indicada pelo pastor ou qualquer outra, bem como, nunca teve nenhuma das demandas do município Luís Domingues encaminhadas por ele, preferindo utilizar os canais oficiais do Ministério da Educação - MEC, para propor as demandas do município, que são muitas, e esperar vê-las atendidas durante o curso do seu mandato. - Gilberto Braga", defendeu-se Braga. 

Já o prefeito de Bonfinópolis (GO), Professor Kelton Pinheiro (Cidadania), contou que chegou a receber uma oferta de desconto no valor da propina: "(Arilton) falou: 'vou lhe fazer por R$ 15 mil porque você foi indicado pelo pastor Gilmar, que é meu amigo. Pros outros aqui, o que eu estou cobrando aqui é R$ 30 mil'." O valor da contrapartida também incluía compra de bíblias patrocinadas pelo pastor.

Segundo o prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza (PP), também disse ter sido abordado pelo pastor Arilton com proposta de propina. “Ele disse: Eu falo lá, já faz um ofício, mas você tem que fazer um depósito de R$ 40 mil para ajudar a igreja”.

Para a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmén Lúcia, os fatos são graves. Em despacho, ela atendeu pedido do Ministério Público Federal e determinou abertura de inquérito para apurar o envolvimento do ministro da Educação, Milton Ribeiro, com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. A investigação será conduzida pela Polícia Federal. A ministra do STF já autorizou que os prefeitos sejam ouvidos como testemunhas do caso. O ministro da Educação e os dois pastores também serão intimados.

Veja quem são os prefeitos que admitiram ter tido acesso ao ministro apenas por conta da intermediação dos pastores ou ainda relatado pedidos de propina feitos pelos religiosos.

Relataram proposta de propina:

  • Gilberto Braga - Luis Domingues (MA)
  • Kelton Pinheiro - Bonfinópolis (GO)
  • José Manoel de Souza - Boa Esperança do Sul (SP)
  • Só chegaram ao MEC por meio dos pastores:
  • Nilson Caffer - Guarani D'Oeste (SP)
  • Adelícia Moura - Israelândia (GO)
  • Laerte Dourado - Jaupaci (GO)
  • Doutor Sato - Jandira (SP)
  • Fabiano Moreti - Ijaci (MG)
  • André Kozan - Dracena (SP)
  • Edmario de Castro Barbosa - Ceres (GO)

FONTE: ESTADÃO.