18 de maio de 2024
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SABATINA GOLPISTA

'Bolsonaro levou minuta do golpe à militares', diz Mauro Cid

Construída por 'advogado constitucionalista', minuta do golpe só teve apoio de almirante da Marinha, Almir Garnier Santos

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O ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, afirmou em sua delação à Polícia Federal (PF) que, logo após o segundo turno das eleições do ano passado, o então presidente Jair Bolsonaro recebeu uma minuta de decreto para convocar novas eleições.

Segundo Cid, a minuta incluía a prisão de adversários políticos do presidente. A informação é do UOL

Felipe Martins, então assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, teria levado a minuta do golpe e um advogado constitucionalista para reuniões com militares do alto escalão. O único apoiador do golpe de estado, de acordo com o relato do delator, foi o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos.  

'Na tarde do dia 9 de maio de 2023, tive a grata satisfação de ser agraciado, em cerimônia realizada na Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Brasília, com a medalha Legion of Merit, no grau de Comandante', contou o bolsonarista almirante Almir Garnier Santos na rede social X (antigo Twitter). 

O delator afirmou que Bolsonaro submeteu o documento para avaliação de outros militares de alta patente, mas não houve adesão do Alto Comando das Forças Armadas.

Cid testemunhou tanto a entrega do documento por um assessor quanto a reunião do ex-presidente com militares e até um padre. Não há informações se Cid apresentou alguma prova que confirme seu relato à PF.

Vamos lembrar que a PF apreendeu uma minuta golpista na residência de Anderson Torres em janeiro, que também autorizava a prisão de adversários políticos do extremista de direita. A minuta golpista de Anderson Torres também determinava a decretação de um "estado de defesa" na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o objetivo de apurar supostas irregularidades nas eleições, o que poderia resultar na convocação de um novo pleito. Nenhuma das acusações da extrema direita era embasada em provas. 

O inquérito 4874, no qual ocorreu o acordo de delação, está sob sigilo no STF e reúne investigações sobre a venda de joias presenteadas por autoridades, suposta falsificação de cartão de vacina e as circunstâncias de minuta e diálogos de cunho golpista encontrados no celular de Cid.

QUEM É FELIPE MARTINS

Filipe Martins, então assessor de Bolsonaro, entregou uma minuta golpista ao presidente, disse Cid Imagem: Reprodução/TwitterFilipe Martins, então assessor de Bolsonaro, entregou uma minuta golpista ao presidente, disse Cid Imagem: Reprodução/Twitter

Felipe Martins é seguidor ferrenho do extremista de direita autointitulado filósofo (ideólogo) Olavo de Carvalho (1947-2022). Martins ocupou a função de assessor especial da Presidência para assuntos internacionais durante a gestão de Jair Bolsonaro.

Nos 4 anos do bolsonarismo, Martins acumulou denúncias. No Ministério Público Federal foi acusado de cometer racismo porque, durante uma sessão no Senado transmitida pelas televisões, fez um gesto com as mãos usado pelos movimentos supremacistas brancos dos Estados Unidos. O gesto forma a sigla White Power, ou Poder Branco. A Justiça do Distrito Federal aceitou a denúncia, mas depois absolveu Martins.

Em 2022, durante as eleições, ele mentiu muito nas redes sociais, disparando fake news para sustentar suposta fragilidade nas urnas eletrônicas. Após a derrota de Bolsonaro no segundo turno, Martins parou de fazer publicações.

O QUE DIZ BOLSONARO 

O ex-presidente, Jair Bolsonaro, disse na semana passada que poderia 'pensar' em cometer golpe de estado, mas se não colocou o plano em prática, então, na sua visão, não seria crime. A afirmação foi dada à coluna de Lauro Jardim, do O Globo.