27 de abril de 2024
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INVESTIGAÇÃO

Bolsonaro tem 48h para explicar ida à embaixada da Hungria

Determinação é do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Vídeos mostram que ex-presidente passou dois dias na representação diplomática, após ter o passaporte confiscado pela PF que investiga a organização de um golpe de Estado

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu 48 horas para que Jair Bolsonaro esclareça as razões pelas quais permaneceu, por dois dias, na embaixada da Hungria, em Brasília, em fevereiro. Foi o que afirmou o advogado do ex-presidente, Fábio Wajngarten, cuja confirmação o Correio obteve junto a fontes no STF.

O episódio, que será investigado pela Polícia Federal (PF), foi trazido à tona, ontem, pelo jornal norte-americano The New York Times. A ida de Bolsonaro à embaixada deu-se dois dias depois ao confisco do passaporte, no âmbito da Operação Véritas, que investiga a articulação de um golpe de Estado em seguida à eleição de 2022.

Vídeos do circuito de câmeras de segurança da representação mostram Bolsonaro e seus auxiliares chegando, à noite, e sendo recebidos pelo embaixador Miklos Tamás Halmai. Pelas imagens, a impressão que se tem é de que ele era esperado. Os funcionários da embaixada se apressam em acomodar o ex-presidente e são vistos levando travesseiros às instalações para hóspedes, que ficam dentro do complexo diplomático, no Setor de Embaixadas Sul.

Bolsonaro chegou à embaixada na noite de 12 de fevereiro, uma segunda-feira, e partiu na tarde do dia 14, quarta-feira. Nesses dois dias, as câmeras registraram, entre outras movimentações, a de um funcionário da representação levando para as instalações de hóspedes uma máquina de café em cápsula por orientação de Miklos Halmai.

As imagens flagram, ainda, auxiliares de Bolsonaro entrando e saindo da embaixada com mochilas nas quais, supostamente, havia itens pessoais. O ex-presidente também é visto circulando no pátio interno da embaixada acompanhado de um auxiliar e mexendo no aparelho celular.

Reações

Integrantes do governo e da base do Palácio do Planalto no Congresso comentaram a presença de Bolsonaro na embaixada húngara. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que o ex-presidente é um "fugitivo confesso" e demonstrou a possibilidade de fuga depois de a PF confiscar seu passaporte.

"Que Bolsonaro é um fugitivo confesso, zero surpresa. Mais uma vez, ele mostrou seus planos de fugir. Fez isso no final do ano retrasado, depois das eleições, ao ter fugido para os EUA. Essas imagens só reforçam que Bolsonaro é um fugitivo confesso", criticou o ministro, depois da solenidade de comemoração dos 200 anos do Senado.

No Congresso, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) pediu à Procuradoria-Geral da República a prisão preventiva de Bolsonaro pela permanência na embaixada da Hungria. Na representação que encaminhou à PGR, o parlamentar acusa o ex-presidente de planejar uma fuga diante da eventual prisão por conta do inquérito que investiga a tentativa de um golpe de Estado, em curso no STF.

Afinidades ideológicas

A escolha da embaixada húngara por Bolsonaro se explica pelas afinidades ideológicas entre ele e o primeiro-ministro Viktor Orbán, apontado como o expoente da extrema direita internacional. Em 17 de fevereiro de 2022, quando esteve em Budapeste, o brasileiro não poupou elogios à nação europeia. "É uma satisfação muito grande estar na Hungria. Considero o seu país o nosso pequeno grande irmão. Pequeno se levarmos em conta as nossas diferenças nas respectivas extensões territoriais, e grande pelos valores que nós representamos, que podem ser resumidos em quatro palavras: Deus, pátria, família e liberdade. Comungamos também da defesa da família com muita ênfase. Uma família bem estruturada, ela faz com que a sua respectiva sociedade seja sadia. Não devemos perder esse foco", frisou. Bolsonaro e Orbán mantêm uma relação de amizade e se reuniram na posse do presidente argentino Javier Milei, em dezembro passado.