Sem nunca ter fornecido material hospitalar, a Farma Supply, que tem como sócio e administrador Marcelo Sarto Bastos, ganhou do Ministério da Saúde, dois contratos para a compra de máscaras cirúrgicas que juntos somam R$ 18,2 milhões. O governo de Jair Bolsonaro decretou estado de emergência, isso suspende licitação, e a empresa escolhida a dedo forneceu máscaras para combater o coronavírus, o problema é que a escolhida não tem histórico de fornecimento e acabou vendendo as máscaras 67% mais caras do que de uma empresa que já fornece ao governo federal.
Bastos é grande admirador de Jair Bolsonaro, assim como revela muitas postagens em sua rede social, além disso é militar aposentado da Marinha. O empresário também se posiciona a favor da criação do Aliança, o partido que o presidente quer criar.
Conforme a lei federal 13.979, o governo fica autorizado à realizar compras emergenciais para enfrentar o avanço do COVID-19, o novo coronavírus. Com isso, o ministério administrado pelo sul-mato-grossense, Luiz Henrique Mandetta, autorizou que se pagasse em 5 de março, R$ 1,5 milhão de máscaras a um preço unitário de R$1,60.
Só que, no mesmo dia, o Ministério da Saúde fechou outro contrato para a compra do mesmo produto. A vendedora, dessa vez, foi a BRT Medical de Materiais Hospitalares, de João Pessoa. Idênticas às da Farma Supply, cada máscara da BRT irá custar 40% menos: R$ 0,96 a unidade.
Conforme levantamento, outros contratos revelam que foi pago R$ 0,14 centavos, nas máscaras que a Bastos forneceu, isso é, o valor 12 vezes menor.
Com o aumento dos casos de vírus, uma semana depois, em 17 de março, o governo federal voltou a assinar contrato com a Farma Supply, dessa vez repassou R$ 15,8 milhões ao apoiador de Bolsonaro. Não foram detalhados no contrato de compra, o valor unitário dos produtos, bem como não foi divulgado o número de máscaras compradas.
A empresa de Bastos, nunca ganhou licitação na área médica, até receber durante a pandemia os dois contratos emergenciais. Constam no histórico da empresa apenas um contrato com o órgão federal, datado ao ano de 2014, quando ganhou R$ 449,10 por 20 litros de água mineral.
Criada em 2011, a Farma Supply informa em seu site que “assessora pacientes na aquisição de medicamentos importados de última geração em caráter de urgência”. Ou seja, ajuda quem deseja comprar remédios que não são produzidos no Brasil, mas podem ser comprados por brasileiros por atenderem a padrões internacionais. À Receita Federal, diz que também faz “comércio atacadista de instrumentos e materiais para uso médico, cirúrgico, hospitalar e de laboratórios”.
A soma dos dois contratos da Farma Supply com o Ministério da Saúde é mais de 180 vezes maior que o capital social que a empresa informa à Receita Federal: R$ 100 mil. O endereço que consta no site oficial é um pequeno prédio comercial na zona oeste do Rio de Janeiro. Não há qualquer informação sobre que estrutura ou quantos funcionários a Farma Supply possui para dar conta de produzir ou importar R$ 18,2 milhões em máscaras cirúrgicas no prazo de 30 dias previsto no contrato.