Fevereiro deve selar os primeiros e mais nítidos contornos do tabuleiro eleitoral a ser montado em Mato Grosso do Sul. Embora as definições estejam programadas para acontecer entre abril e junho, no calendário regular das convenções, para o segundo mês do ano está previsto um fato de alcance determinante na composição das forças e na formulação das táticas na sucessão estadual: bem antes do carnaval o governador André Puccinelli será recebido pela presidenta Dilma Roussef, no Palácio do Planalto. A pauta não-engessada desse encontro vai combinar interesses específicos e nortes comuns de administração e eleição. Dilma quer a reeleição e com ela a maioria no Congresso nacional, sobretudo no Senado, onde o equilíbrio das forças é mais acentuado. Atualmente, com o número reduzido de congressistas (69) e as oscilações das bancadas, volta e meia o Governo encontra problemas para emplacar iniciatyivas estratégicas. E para a próxima legislatura a previsão dos especialistas é que esse equilíbrio matemático vai permanecer. Cada voto no Senado passa a ter peso dobrado para uma governante em segundo mandato. Com frequência, vários projetos precisam de dois terços dos senadores para que prosperem ou sejam abortados. Nessa conta e nesse quadro, eleger um senador a mais ou a menos em Mato Grosso do Sul passa a ser tão importante quanto ganhar ou perder um senador em São Paulo, não importa a oceânica diferença quantitativa entre os colégios eleitorais dos dois estados. Dir-se-á, em fontes oficiais, que o governador e a presidenta protagonizarão nada mais que uma agenda rotineira de caráter administrativo. Não deixa de ser verdade. Há algumas demandas pendentes entre o Planalto e o Estado no tocante à liberação de recursos para investimentos estruturantes. CHAVE DE OURO - Candidato ou não, Puccinelli quer fechar seu segundo mandato com a famosa "chave de ouro", entregando obras de grande impacto, cuja conclusão depende da abertura das torneiras federais. Uma dessas obras, vista como "menina dos olhos", é a pavimentação da rodovia entre Aquidauana e Rio Verde, abrindo caminho de alimentação e conexão com outros corredores de singular dimensão econômica e social para dezenas de municípios e a afirmação desenvolvimentista do Estado. É o que projeta o Programa MS Forte, lançado e executado por Puccinelli. O fim de um mandato, no entanto, implica naturalmente a expectativa de começar outro. Dilma vai buscar a reeleição. E para ter maioria no Senado, seu olhar em Mato Grosso do Sul depara-se na certeza - dizem as pesquisas - de que hoje o preferido para tornar-se governador a partir de 2015 é o petista Delcídio Amaral. Mas a presidenta espia por uma janela mais ampla e preocupa-se com o previsível dia seguinte após a reeleição, quando saberá se terá ampla maioria no Senado ou correrá o risco de virar refém do jogo bruto da governabilidade - ou da fragilidade dessa condição. EXIGÊNCIAS - Em princípio, não há o que a presidenta, mesmo correligionária, possa exigir de Delcídio Amaral, que vai garantir-lhe no segundo mandato mais um item de autoridade indispensável à fotografia da legitimidade política e eleitoral de seu governo. Quanto maior o número de governadores aliados - e, especialmente, do PT -, mais força e densidade terá a caneta palaciana para não perder o controle do jogo federativo, nem sempre limitado à letra fria dos tratados administrativos e jurídicos. É jogo político também. Se quisesse - e teve tempo e oportunidade para isso - Dilma exigiria de Delcídio que se limitasse a garimpar alianças dentro do campo limitado de alianças do PT, um campo que varia muito entre interesses locais e nacionais. A presidente, com grandeza, não interferiu até agora no caminhar livre, mas compassado, do senador pré-candidato a governador. Delcídio conversa com todo mundo e não faz segredo que o PSDB e o DEM têm participado dessas conversas. Ah, e o PMDB, obviamente. No frigir das frigideiras, o encontro entre Dilma e André Puccinelli terá tudo a ver com a formatação do cenário que decidirá a eleição. Se o governador sentir-se - ou for - convidado a disputar o Senado, apoiando a candidatura de Delcídio, deduz-se que a presidenta sentir-se-á duplamente grata e devedora a Mato Grosso do Sul e aos seus principais aliados da base de sustentação palaciana. E André teria ainda oportunidade de levar consigo, como suplente, Simone Tebet ou Nelson Trad Filho. Edson Moraes, especial para MS Notícias