07 de novembro de 2025
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NEGACIONISTAS

Grupo do ET Bilu usa o governo de SP para obter legitimidade

O grupo tenta obter licenças arqueológicas junto ao Instituto do Patrimônio Histórico (Iphan) para invadir terras indígenas com sua pseudociência

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O governo de São Paulo, sob gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), firmou um protocolo de intenções com a Dakila Pesquisas, de Urandir Fernandes de Oliveira.

Esta organização é amplamente conhecida pela criação da figura folclórica do "ET Bilu".

A parceria, embora posteriormente encerrada, conferiu uma importante chancela estatal ao grupo.

A informação foi originalmente reportada pelo Cartas Marcadas, do The Intercept Brasil.

O acordo foi assinado em 2024 pela Secretaria de Turismo do estado.

A pasta é comandada por Roberto de Lucena, pastor filiado ao Republicanos.

O pretexto oficial para a cooperação era a realização de estudos sobre o "Caminho de Peabiru".

Trata-se de uma antiga rota indígena que ligava os oceanos Atlântico e Pacífico.

Meses após a assinatura, o governo paulista encerrou o convênio.

A justificativa foi a "falta de entrega de resultados técnicos" por parte da Dakila.

Contudo, analistas apontam que o grupo obteve seu objetivo central: legitimidade estatal.

Ser reconhecida como parceira de um governo estadual fortalece sua imagem de instituto científico.

O apoio institucional não se limitou ao executivo paulista.

A Dakila também realizou eventos no Auditório Nereu Ramos, no Congresso Nacional.

Embora tratada como curiosidade, a organização mantém uma robusta frente empresarial.

O grupo descreve suas operações como um "ecossistema" autossustentável.

As empresas incluem a AgroDakila (agronegócio) e a Kion Cosmetics.

Também fazem parte a 067 Vinhos e a Brazilian Kimberlite Clay (extração de argila).

Além disso, opera a BDM Dourado Digital, uma espécie de banco digital.

Desde 2020, a Dakila busca expandir sua atuação para a Amazônia.

O grupo tenta obter licenças arqueológicas junto ao Instituto do Patrimônio Histórico (Iphan).

O objetivo é pesquisar "Ratanabá", uma suposta cidade perdida na selva.

Esta narrativa é tratada como teoria da conspiração e não possui respaldo científico.

Os pedidos ao Iphan miravam áreas em Rondônia e no Mato Grosso.

Uma das solicitações incluía territórios associados à Terra Indígena Kayabi.

O Iphan negou e arquivou os pedidos.

Os pareceres técnicos apontaram falta de arqueólogos qualificados.

Também foi constatada a ausência de consentimento prévio das comunidades locais.

Apesar das negativas técnicas, a Dakila recebeu apoio político.

Um ofício do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) pediu "atenção" do Iphan ao pleito.

Em 2024, Barros foi eleito presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.

A comunidade científica reagiu às investidas do grupo.

A Sociedade de Arqueologia Brasileira aprovou uma Moção de Repúdio contra a Dakila.

A entidade alerta para o risco da pseudociência usar a máquina pública para ganhar credibilidade.

FONTE: The Intercept Brasil.