26 de abril de 2024
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CONTROVERSA

Presidente que negocia cargos "infringe a Constituição", disse Bolsonaro há 2 anos

Bolsonaro disse que Dilma Rousseff foi "cassada" baseado em um inciso do Artigo 85 da Constituição; veja o vídeo

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Vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro disse em 2018, durante as eleições, que não negociaria cargos com partidos políticos para manter a governabilidade no Congresso e onde ao então candidato definia a prática como crime de responsabilidade voltou a circular nas mídias sociais após as vitórias de Arthur Lira (Progressistas-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para presidir, respectivamente, a Câmara e o Senado. O trecho que está circulando é de uma transmissão ao vivo que Bolsonaro fez na véspera do segundo turno das eleições presidenciais em 27 de outubro daquele ano. O agora mandatário cita o artigo 85 da Constituição Federal e diz que com base nele que a ex-presidente Dilma Roussef (PT), teria sido “cassada” – querendo explicar na verdade que ela sofreu um impeachment. 

O vídeo volta à tona após o Estadão revelar que o Palácio do Planalto interferiu diretamente na corrida pelas presidências da Câmara e do Senado. Ex-líder do Centrão, Lira foi eleito presidente da Câmara com ampla vantagem sobre o rival, Baleia Rossi (MDB-SP), assim como Pacheco venceu a disputa com a emedebista Simone Tebet.

"Qualquer presidente que distribua ministérios, estatais ou diretorias de banco para conseguir apoio dentro do parlamento está infringindo o artigo 85 inciso 2 da Constituição", argumentou o então candidato à presidência no trecho que circula nas redes sociais, extraído entre os minutos 4 e 7 do original. "O que fiz durante a campanha dizendo que não aceitaria o 'toma lá dá cá', fiz baseado na Constituição", afirmou Bolsonaro.

VEJA A PROMESSA DO ENTÃO CANDIDATO A VÉSPERA DO DIA DA ELEIÇÃO:

O revelado pelo estado é o fato de Jair Bolsonaro ter liberado R$ 3 bilhões em recursos "extras" do Ministério do Desenvolvimento Regional para 250 deputados e 35 senadores destinarem a obras em seus redutos eleitorais, para que os parlamentares na disputa do Congresso e da Câmara, votassem nos candidatos do presidente, Lira e Pacheco, ambos foram eleitos com vantagem avassaladora de votos. Também foi recorde, este neste 2021, a liberação de emendas parlamentares.

Depois de os candidatos de Bolsonaro eleitos, veio a conta. Partidos do Centrão aumentam a pressão para obter cargos no Banco do Brasil e Casa da Moeda e também as pastas da Saúde, de Minas e Energia, Cidadania e Desenvolvimento Regional. Contradizendo diretamente o que Bolsonaro prometeu a seus eleitores. 

Bolsonaro, apontado por órgãos internacionais como o pior presidente no enfrentamento a pandemia, se viu numa “sinuca de bico”, em que de um lado não consegue controlar o avanço da Covid-19 em seu país em outro lado assiste o fracasso do seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, bem como insiste em desconfiar do seu vice-presidente, Hamilton Mourão. Além disso, Bolsonaro tenta conseguir que não avancem as investigações contra seus filhos, apontados em esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa, devido as “rachadinhas”, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). 

O ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, reagiu nesta segunda-feira, dia 8, a críticas generalizadas sobre a aliança do presidente Jair Bolsonaro com o Centrão.

Alvo de críticas de colegas de farda, o ministro da Secretaria de Governo, general da reserva Luiz Eduardo Ramos, disse não se envergonhar de ter articulado com o Centrão a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado. Segundo ele, os oficiais da ativa compreendem o “momento político” do governo. Embora negue, o gabinete de Ramos foi visto como QG das negociações, que teriam envolvido a liberação de R$ 3 bilhões em verbas extras para parlamentares.