Os dias passam e aproxima-se o momento de abertura do calendário eleitoral, tendo como principal ingrediente neste primeiro semestre a realização das convenções que irão definir candidaturas e coligações. Praticamente todos os partidos têm problemas e alguns já buscam as soluções.
Em Campo Grande, a sucessão do prefeito Marquinhos Trad (PSD) possui um tempero dos mais interessantes, relacionado à participação do PSDB. O governador Reinaldo Azambuja tem um compromisso pessoal com o pessedista, quer retribuir no mesmo tom o apoio que recebeu dele e foi decisivo na sua reeleição em 2018.
Ocorre que este é um compromisso pessoal, não de ordem partidária. Azambuja não falou em nome do partido e foi bem específico ao ressalvar que a decisão final será dada pelos fóruns internos do PSDB, dentro dos trâmites regimentais, com destaque para as manifestações dos dirigentes, lideranças e membros do diretório. Contudo, uma decisão da direção nacional do partido, embora fragilizada pelas conjunturas regionais, aplica na inteligência tucana uma espécie de impasse que pode complicar planos futuros.
Uma resolução da executiva nacional no ano passado determina que o partido terá seus próprios candidatos e candidatas às prefeituras nos municípios cidades com mais de 100 mil eleitores. Trata-se de uma decisão que, a rigor, fere as mais elementares lógicas de sabedoria política, porque ignora realidades locais recentes, nas quais o PSDB precisou do apoio de outros partidos para realizar seus projetos eleitorais.
Um dos casos é exatamente o de Mato Grosso do Sul. Em 2018, com a disputa estadual irresolvida no 1º turno, a reeleição de Reinaldo Azambuja chegou a ficar ameaçada pelo crescimento do candidato do PDT, o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira. Campo Grande, porém, barrou esse avanço, graças ao envolvimento decisivo de Marquinhos. O seu empenho na mobilização de aliados, arregimentando forças políticas e classistas, e na vigorosa mobilização popular, plantaram no terreno da disputa de segundo turno as sementes necessárias para florescer a vitória do governador no segundo turno.
TENDÊNCIAS
Em princípio, as bases tucanas sinalizam a tendência de acompanhar a vontade do governador. Porém, o PSDB, até por uma questão de honra partidária, não descartou a possibilidade de lançar sua própria chapa majoritária, ideia que tem suporte na resolução geopolítica da executiva nacional. Segundo dados atualizados até 31 de dezembro do ano passado pelo Tribunal Regional Eleitoral, em Mato Grosso do Sul dois municípios estariam enquadrados nessa decisão: Campo Grande, com 606,3 mil eleitores, e Dourados, com 159,1 mil. O
Se entender que a palavra da direção nacional é impositiva e absoluta, o tucanato local será obrigado a atropelar o aceno de seu maior líder ao prefeito e escolher um dos vários nomes disponíveis para montar e lançar sua própria chapa. Assumirá, então, a complexa obrigação de vencer, porque uma derrota na capital detonaria o partido como um todo, causando estragos políticos profundos e de longa duração. O PSDB está ciente disso e detém demonstrativos qualitativos e quantitativos de pesquisas atestando a capilaridade e o alcance eleitoral de um prefeito que caminha com índices recordes de avaliação e ainda não permitiu que sua pré-candidatura chegasse às ruas.
No entanto, é para uma eventual disputa com chapa própria que o carrega tem duas de suas principais soluções: os deputados federais Beto Pereira e Rose Modesto. O nome mais competitivo eleitoralmente é o da deputada. Ela foi a candidata em 2016 e chegou ao segundo turno, dificultando a vitória de Marquinhos. Saiu das urnas fortalecida e se elegeu deputada como uma das mais votadas no País.
Hoje, entretanto, no âmbito da sucessão campo-grandense, Rose Modesto ainda não conseguiu sensibilizar o conjunto partidário e o tempo para isso já não é tão suficiente. E sem um maiúsculo apoiamento interno, a deputada teria problemas ainda maiores para atrair aliados, o que inviabilizaria sua candidatura.
Isso poderia levar a legenda a pensar numa terceira - e por enquanto impensável - via: entrar no páreo com uma chapa caseira que, em tese, não poderia oferecer risco algum à reeleição de Marquinhos Trad. Para o presidente regional do PSDB, Sérgio de Paula, e para os demais líderes e dirigentes, esta hipótese não existe. O entendimento geral é que o partido, antes de tudo, deve seguir a liderança e as orientações do governador.