23 de abril de 2024
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Editorial

Sem razão e sem sentido, não se pode brincar de política

A informação ágil e sem fronteiras, se não outros, trouxe um grande benefício. As máscaras políticas estão caindo.

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As clausuras que mantinham grupos políticos em isolamento, podendo tramar sob a meia luz das mentiras impostas, estão se rompendo. Foram arrombadas pela disseminação da informação em tempo real e sem fronteiras. Parece que nenhum outro insano terá vida longa na política. Talvez o último tenha sido Jânio Quadros. Depois dele, Collor não resistiu, Dilma respira por aparelhos e Gilmar Olarte foi uma doença contra a qual se procura desenvolver uma vacina.

Se durante a ditadura militar o povo foi mantido exilado em sua própria terra, mas distante da sua Nação à força da baioneta (simbólico porque as armas de retenção eram bem mais potentes), e se por outros longos períodos a “baioneta” era a desinformação generalizada e a mentira urdida, a “nova comunicação” aliada a uma nova geração caminha na direção de ser a grande oponente da nefasta hipocrisia política.

A força da comunicação foi a força que derrubou muros, governos, fronteiras. O jornalismo temeu, estupefato diante da perda da primazia da informação que as novas tecnologias apresentavam, mas soube compreender que se ampliava ali seu leque de fonte de informação. Bastava, como profissionais, codificá-la.

No recontar da história, mantidas as devidas proporções, um fato peculiar pode ilustrar com mais propriedade o temor das mudanças, as adaptações forçosas e os resultados benéficos:

Quando da invenção do rádio portátil – muitos terão que recorrer ao google para descobrir o que era esse dinossáurica aparelho da década de 1960 – os locutores esportivos entraram em polvorosa. Todo o teatro que faziam para aprisionar e manter fiel seus ouvintes, ruiu. Dentro dos estádios, com seus radinhos colados no ouvido, o narrador tinha que ser fiel. Todos temeram que o futebol perdesse a graça das mirabolantes narrações fictícias. Os profissionais do rádio se adaptaram,

Hoje, a comunicação vai além do alcance das ondas do rádio, da abrangência das redes de comunicação de emissoras de televisão. Hoje felizmente desrespeitam-se as fronteiras físicas dos países. Se antes as conversas se pautavam pelas informações de ontem contidas no jornal de hoje, agora as dúvidas sobre quaisquer assuntos são sanadas em tempo real, ao toque de um celular.

Assim caiu Collor e sua farsa, dessa forma as mentiras de campanha de Dilma Rousseff foram desmentidas no primeiro dia da segunda posse.

No varejo nosso de cada dia, desmascara-se o insano e meteórico “bispado” de Gilmar Olarte. Se falta transparência nos negócios municipais, sobram cobranças. Se antes os Diários Oficiais eram lidos por poucos e suas informações quase codificadas, eram restritas, hoje são traduzidas para a linguagem comum e disseminadas.

Não se pode brincar de política, e a Câmara Municipal de Campo Grande, tardiamente entendeu, ou antes, se rendeu a essa realidade. Boa parte dos vereadores passou a compreender a inversa proporção entre um eleitorado que cresce e suas votações que mínguam. Foram anos defendendo o indefensável na esteira da troca de favores restritos aos “escolhidos”.

Os conchavos apresentados na forma de “coligações” espúrias, foram percebidos como nefasto para a nossa gatinhante democracia, sem partidos, sem ideologias. Que venha o “Distritão”, onde os mais votados serão aqueles que irão nos representar.

Talvez o último caudilho aqui nestas terras, a manter o legislativo atrelado a suas vontades pelo insustentável e inexplicável poder que ostenta, tenha sido André Puccinelli. Nelsinho conseguiu a proeza na esteira do imobilismo da Câmara e pela força de um partido que hoje definha.

Olarte pode ter sido um mal necessário. O símbolo da seriedade que os novos tempos exigem da política. A acuidade que se faz necessária na escolha de seus auxiliares. Talvez a prova maior de que o Estado é laico, ou deveria ser. Não se pode pinçar nomes na pretensão de buscar votos em segmentos religiosos. Numa só tacada, Olarte envergonhou os evangélicos e os políticos.

Parece que o presidente do legislativo municipal, Mario Cesar, uniu inteligência à sua reconhecida esperteza e deu início, ou deixou acontecer, o motim. Ainda que sejam, ainda, suspiros e estertores da política de grupos políticos, foi elucidador o “Ato Falho” de Mario Cesar quando, durante entrevista aos jornalistas, na manhã da quinta-feira (7), querendo se referir à Comissão Parlamentar de Inquérito, a tenha chamado de “Comissão Processante”.

Se a troca de informações tem sido a vacina contra a alienação social, nesse caso foi também para combater (e quem sabe extirpar) tipos como o prefeito Gilmar Olarte.