08 de novembro de 2025
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'DIÁRIO DE FRACASSOS'

33 anos depois, Cláudio Castro supera desastre de Fleury no Carandiru

Sem uso efetivo de inteligência, o governador, ligado à ala mais à extrema direita da política nacional, tinha como alvo supostos líderes do Comando Vermelho (CV)

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Há 33 anos, em 2 de outubro de 1992, a Polícia Militar de São Paulo, sob ordens do então governador Luiz Antônio Fleury Filho, invadiu a Casa de Detenção do Carandiru e assassinou 111 detentos. O episódio ficou marcado como o maior massacre policial da história do Brasil — até então.

Diante do massacre, o estado praticamente deu vida ao Primeiro Comando Capital (PCC), reação natural dos presos que não queriam ser mais vulneráveis à um massacre semelhante.  

O erro de Luiz Antônio Fleury Filho, em 1992, não serviu de alerta de que a letalidade não corrige os problemas da segurança pública. Prova disso é que, neste 29 de outubro de 2025, a 429 quilômetros do Carandiru, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), ordenou a invasão dos complexos da Penha e do Alemão por cerca de 2,5 mil policiais.

A operação, marcada pela falta de planejamento e pela alta letalidade, superou a tragédia do Carandiru, deixando 132 mortos, entre eles 128 civis e quatro policiais.

Sem uso efetivo de inteligência, o governador — ligado à ala mais à extrema direita da política nacional — tinha como alvo supostos líderes do Comando Vermelho (CV), facção criada no Instituto Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande, durante a Ditadura Militar, quando presos comuns e políticos dividiam o mesmo espaço.

Segundo a Polícia Militar, o balanço da ação inclui 81 prisões e a apreensão de 93 fuzis. A falta de estratégia ficou evidente quando integrantes da facção utilizaram drones para atacar agentes à distância.

Entre os chefes do CV e os policiais, estavam os moradores das comunidades, muitos deles jovens cooptados pelo tráfico. O massacre expõe a fragilidade das forças de segurança e o histórico desprezo do Estado pelas populações das favelas.

REAÇÕES 

Organizações de direitos humanos classificaram o episódio como um massacre e cobraram investigação independente sobre as mortes. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) divulgou nota dizendo estar “horrorizado” com a operação e pediu apuração rápida e eficaz das circunstâncias das mortes.

Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ministros para avaliar a crise e discutir a atuação conjunta do governo federal em políticas de segurança pública. O episódio ocorre às vésperas da cúpula climática da ONU, que será sediada no Brasil e terá o Rio de Janeiro como uma das cidades anfitriãs, o que aumentou a repercussão internacional.

CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS 

Com a cidade paralisada, linhas de ônibus suspensas, escolas fechadas e moradores confinados, o Rio amanheceu sob tensão.

Voluntários e equipes da prefeitura recolheram corpos durante toda a manhã desta 4ª feira (29.out.25). Moradores relatam que ainda há desaparecidos e corpos em áreas de mata e becos.