26 de abril de 2024
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Deputada federal Rose Modesto

Isolamento político ronda o futuro da campeã de votos em MS

Rose Modesto não esconde insatisfação com tendência de aliança pela reeleição de Marquinhos Trad

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Embora a legislação seja uma barreira difícil de ser superada, a deputada federal Rose Modesto (PSDB/MS) ainda insiste em levar adiante a tentativa de disputar a sucessão municipal no próximo ano. Por causa da declarada simpatia do governador Reinaldo Azambuja ao projeto de reeleição do prefeito Marquinhos Trad (PSDB), ela estaria ainda nutrindo esperanças de procurar abrigo para sua candidatura em outra legenda. Já ensaiou alguns passos nesta direção, instalando seu grupo no controle regional do Podemos e abrindo conversas com outras legendas, entre as quais o MDB.

Se não fosse um histórico determinante para explicar o apoio declaradamente pessoal do governador Reinaldo Azambuja a Marquinhos Trad (PSD), seguramente o PSDB estaria trabalhando, e em ritmo acelerado, a construção de sua própria chapa majoritária para lançar seu candidato na disputa da Prefeitura de Campo Grande em 2020.

Neste cenário hipotético, Rose Modesto seria o nome mais competitivo entre os tucanos para a cabeça de chapa. Não lhe faltam requisitos políticos e eleitorais: ex-vereadora de dois mandatos, ex-vice-governadora, ex-candidata a prefeita - com o mérito de levar a disputa ao segundo turno em 2016 - e deputada federal com o maior número de votos em 2018.

Todavia, o processo sucessório local está submetido a uma conjuntura condicionada por fatos e atos que, mesmo sem afrontar a legitimidade dos direitos e dos desejos de Rose, podem conduzi-la ao isolamento partidário - e daí, como consequência, a um inevitável processo de esvaziamento político e eleitoral. Ela mesmo tem consciência sobre como alçou os voos vitoriosos de sua vida publica.

SOMA DE MÉRITOS - A deputada sabe – assim como toda a sociedade – que chegou aonde está graças a uma soma de méritos: os seus, individuais, creditados ao espírito tenaz e competente de uma mulher que entendeu os desafios de seu tempo e lutou até conquistar o próprio espaço no território machista da representação política e popular. Foi assim que entrou no páreo e buscou seu primeiro mandato, o de vereadora.

Mas há também os méritos emprestados a Rose Modesto por outras pessoas e forças, que garantiram a ela o combustível para ir além do que já havia conquistado. Sozinha, teria provavelmente estancado nos limites de um mandato legislativo municipal. Com o empenho pessoal de Reinaldo Azambuja e apoio de uma ampla base partidária, liderada pelo PSDB, tornou-se vice-governadora, quase chegou à prefeitura da capital e chegou à Câmara dos Deputados com 120.901 votos. Foi a mais votada em Mato Grosso do Sul e, proporcionalmente, uma das campeãs de voto no País.

Ao PSDB, portanto, o natural seria tratar e encaminhar Rose Modesto como solução de candidatura para a sucessão municipal. Ocorre que esse mesmo PSDB, trampolim para a eleição de Rose, teve naquela eleição um desafio ainda maior e mais complexo, que era a reeleição de Azambuja. O governador, “padrinho” e “cabo eleitoral” da deputada mais votada, estava entrando no segundo turno da briga pela reeleição e precisava se garantir num reduto estratégico e decisivo: Campo Grande.

Foi aí que se agigantou o papel decisivo de Marquinhos Trad. Ele municiou a campanha pela reeleição de Azambuja reforçando junto ao eleitorado campo-grandense os vários benefícios que a parceria Estado-Município havia consolidado em dois anos de parceria. E pôs em jogo seu prestígio pessoal e político, dedicando-se a um exaustivo empenho de mobilização popular e eleitoral em favor do governador.

Ao final da vitoriosa empreitada, o grato Azambuja disse ao prefeito que lhe retribuiria na mesma moeda o apoio recebido. Um dos fatores fundamentais para sua reeleição foi dar crédito à atuação de Marquinhos no segundo turno – e o governador fez questão de ressalvar que não poderia falar pelo partido, mas assumia o compromisso, pessoal e político, de buscar uma solução para devolver na sucessão municipal o impulso que teve na estadual.

SENSO POLÍTICO - É temerário ou até desrespeitoso inferir que Rose Modesto não se importe com o que deseja o governador ou mesmo que esteja desafiando um partido cuja militância segue fielmente seu líder maior em Mato Grosso do Sul. Porém, falta a ela a dose necessária de senso político para acarear o que é prioridade maior, se os legítimos desejos pessoais ou os legítimos apelos à unidade partidária.

É isso o que estará em jogo quando a evidência se manifestar entre o apoio maciço da militância tucana ao governador e a insatisfação que brota das contundentes alfinetadas de uma deputada que, pelas aparências, se dispõe a contrariar a quem deveria ser fiel. Ela não está impedida de reivindicar a indicação do partido para a disputa, mas age como se estivesse. Ignora que a posição de Azambuja pró-reeleição de Trad é pessoal e não vai além da vontade de fazer um gesto de gratidão. A posição do PSDB pode ser esta e pode não ser, tudo depende da capacidade de convencimento da parlamentar que prefere o partido com chapa própria.