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Jogos Escolares da Juventude

Equipe indígena participa pela segunda vez dos Jogos Escolares da Juventude

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Mato Grosso do Sul terá pela segunda vez uma equipe indígena na etapa nacional dos Jogos Escolares da Juventude (JEJ). Trata-se do time de futsal feminino da Escola Municipal Guarani Kaiowá, de Amambai. O grupo que vai à edição do maior torneio esportivo escolar do país, em Blumenau-SC, é formado por atletas da etnia guarani-kaiowá, na faixa etária de 12 a 14 anos. A estreia na competição nacional foi em 2016, em João Pessoa-PB. A participação sul-mato-grossense nos JEJ Blumenau tem o apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte).

A equipe indígena foi campeã da fase estadual dos Jogos e vai à Região Sul do país com plantel de nove jogadoras, treinadas por Miller Samorio. Segundo o técnico, é um orgulho para o povo Guarani Kaiowá e ao município participar mais uma vez dos JEJ. “Estamos sempre na fase estadual dos Jogos e conseguimos o título neste ano. É a primeira vez que essas atletas vão viajar para um lugar longe e espero que consigam o melhor resultado para o Estado”.

Samorio afirma que o diferencial da equipe é a habilidade individual de suas atletas, que têm facilidade em driblar, além do fato de “vender caro” uma derrota. O grupo de meninas é conhecido por jogar com pinturas pelo corpo, como forma de manter as raízes da cultura Guarani e Kaiowá. “A pintura e a língua são nossa identidade. Tem a ver com a espiritualidade também. Quando as meninas vão aos Jogos, a primeira coisa que elas combinam é de se pintarem antes de entrar em quadra”.

Ele evidencia que as pinturas possuem vários significados, mas o principal é dar força e motivação nas disputas. “Cada uma tem uma forma diferente e depende do momento também. Para entrar em quadra, elas se pintam com a intenção buscar algo, entramos como se fosse uma ‘guerra’, para vencer”. Outro segredo no palco das partidas é a utilização apenas da língua guarani na comunicação entre técnico e atletas.

“A língua sempre nos apoia também para combinar jogadas ensaiadas e outros segredos em jogo. Nossas adversárias sempre querem entender o que falamos e isso é muito importante para nós. Na beira da quadra, eu grito bastante e as oponentes e torcedores ficam curiosos. Então, é essencial para surpreender as adversárias em movimentações e jogadas”, explica.

Diferencial do esporte

O esporte é um dos principais caminhos para que crianças e jovens de todas as classes sociais, em especial aos indivíduos em situação de vulnerabilidade econômica, conheçam outras cidades, centros esportivos, outras pessoas e até mesmo fiquem hospedados em um hotel.

“Algumas nunca saíram do Estado, então é uma oportunidade para elas viajarem, conhecer novos lugares, pessoas. Será uma experiência ímpar. Não posso deixar de falar sobre a Fundesporte, agradecer pela oportunidade que proporciona aos jovens de saírem da comunidade, participarem dos Jogos, dos hotéis. Será a primeira vez que ficam em um hotel”, destaca Samorio.

De acordo com técnico indígena, os dias que antecederam a viagem a Santa Catarina foram de ansiedade para as atletas-estudantes. O último treino foi na segunda-feira (18.11). “Desde semana passada, elas sempre me perguntam o horário de embarque, quantas horas de viagem. Eu também mando fotos do hotel para elas em um grupo no WhatsApp, da piscina, café da manhã de primeira e com isso elas ficaram mais ansiosas ainda”.

Samorio não poderá ir a Blumenau, por questões pessoais. Em seu lugar, comandará a equipe Iridio Carmona, que declara ser “uma honra divulgar nossa cultura”. “Representa um passo muito grande, significa que independente de sermos indígenas, também podemos competir de igual para igual, nós também nos preparamos”.

Ele salienta que a ida à fase nacional há três anos foi crucial para entender os sistemas de jogo de equipes de outras regiões do país. “Agora, estamos melhor preparados. Nossa expectativa é grande, ganhar e fazer o melhor. Estamos ansiosos, nervosos, mas é normal. No fim, vai dar tudo certo”.