29 de março de 2024
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ELEIÇÕES 2022

Bolsonaro usa 'vitimismo' e deve ir à reeleição com mesma estratégia, diz filósofo político

Jair Bolsonaro usa seu próprio eleitorado como uma espécie de "ventríloquo"

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Na manhã desta sexta-feira (13) em frente ao Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro afirmou que que outras acusações envolvendo seu nome e de pessoas da sua família vão aparecer nas investigações do assassinato de Marielle Franco (PSol-RJ) e Anderson Gomes.

“É uma maquinação constante querendo me derrubar, denegrir minha imagem. Me acusar de alguma coisa. O caso Marielle, no Rio de Janeiro, que não acabou ainda. Outras acusações virão. Armações, sabem de quem”, disse Bolsonaro às pessoas que o aguardavam na saída do Palácio, entre elas, um padre com um coral infantil, um pastor e um homem vestido de Papai Noel.

Na avaliação do filósofo e cientista político Marcos Nobre, Jair Bolsonaro usa seu próprio eleitorado como uma espécie de “ventríloquo”. Traçada essa comparação a partir do que Nobre explicou ontem à noite (12), no Jornal da TV Cultura. “O Governo Bolsonaro decidiu que não vai só tirar as instituições da Lei, ele vai colocar pessoas dentro das instituições que as destroem. – Então se põe uma pessoa que destrói o Meio Ambiente, para cuidar do Meio Ambiente! ­– Você põe uma pessoa que faz declarações como ‘o racismo não existe no Brasil’ para cuidar da Fundação Palmares. – Coloca alguém que não protege os índios para proteger os índios! Entende? É uma estrutura do Governo fazer isso”, explicou. 

Nobre comentava a situação de o Supremo Tribunal Federal pedir o impeachment do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. E também a decisão do governo de cumprir suspensão judicial e suspender a nomeação do jornalista Sérgio Nascimento de Camargo para a presidência da Fundação Palmares. 

O pedido de impeachment de Ricardo Salles, foi apresentado no em novembro por parlamentares da Rede Sustentabilidade. Os parlamentares alegavam que o ministro descumpria a obrigação de atuar pela preservação do meio ambiente, após cortar 24% do orçamento do Ibama, e que, com isso, teria praticado atos incompatíveis com o decoro, a honra e a dignidade, ao perseguir agentes públicos por cumprirem a função. E que ainda, Salles teria ferido a Constituição ao impedir a participação da associação civil organizada no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). E também por não ter interferido na decisão do presidente do Ibama, Eduardo Bim, de autorizar a exploração de óleo e gás, próximo ao arquipélago de Abrolhos, no litoral sul da Bahia, apesar de recomendação técnica em sentido contrário. 

Essa é a primeira vez na história que um ministro terá de ser julgado pelo STF por seus atos. Esse mesmo pedido já havia sido arquivado por Edson Fachin, em outubro. Na época, o ministro do STF alegou que os parlamentares não tinham legitimidade jurídica para pedir o afastamento de ministro de estado, ainda que fosse por crimes de responsabilidade. E que caberia ao Ministério Público Federal apresentar a denúncia. A Procuradoria Geral da República foi contra a instalação do processo. Classificando a ação como ‘inconformismo com a política ambiental do governo’; os parlamentares da Rede recorreram e agora Fachin enviará a decisão para análise do plenário no STF, no entanto, ainda não tem data para ser pautada, pois depende da decisão do presidente da Corte, Dias Toffoli. Lideranças do Rede comemoraram a decisão. Já o Palácio do Planalto disse que não vai comentar sobre o assunto. Ricardo Salles, que participa da Conferência pelo Clima em Madri (COP-25), não respondeu as mensagens da reportagem da TV Cultura. 

A outra decisão do governo, de afastar o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo da presidência da Fundação Palmares, veio após também decisão judicial protocolada na sexta-feira (6), nove dias após Camargo ser nomeado. Na decisão, o juiz Emanuel José Matias Guerra, titular da 18ª Vara Federal do Ceará, afirmou que haviam várias publicações feitas por Camargo, que ‘tinham o condão de ofender justamente o público que deve ser protegido pela Fundação Palmares’. Camargo fez estas publicações, até mesmo depois de ser nomeados. “A escravidão foi terrível, mas benéfica aos descendentes”; “No Brasil existe um racismo nutella. Racismo real existe nos Estados Unidos. A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”. “Claro que tem que acabar o Dia da Consciência Negra, que uma data que a esquerda se apropriou para propagar vitimismo e ressentimento racial. Isso não é uma data do negro brasileiro. Isso é uma data de minorias empoderadas pela esquerda, que propagam ódio ressentimento e divisão racial”, disse o ex-presidente da Fundação Palmares. A Advocacia-Geral da União já recorreu da decisão e dependendo do desenrolar Camargo pode retornar ao Cargo.

Para o filósofo e cientista político Marcos Nobre, ele provavelmente deve retornar ao cargo, por isso se tratar de uma estratégia usada pelo governo Bolsonaro. “Isso ir bater na Suprema Corte de fato era esperado, porque você está colocando pessoas que estão praticando coisas que vão contra a própria instituição”, atenuou. Mas para Nobre, é dessa forma que o governo se legitima, por que ele diz; ‘– Nós viemos aqui para destruir o sistema’. Então, em um momento em que o ministro Ricardo Salles, é levado ao seu impeachment pelo STF. Aí o que eles vão dizer. ‘– Está vendo, nós somos mesmo perseguidos pelo sistema’” pontou o filósofo. 

Ainda de acordo com nobre, as ações do governo são programadas e o afastamento do ministro Meio Ambiente é algo que faz parte da lógica do governo bolsonarista. “Agora vão dizer, nós somos perseguidos por esse sistema porque nós queremos destruí-lo e o sistema resiste. Então pelo contrário, mas um ponto para o Bolsonaro, mas uma vergonha para o Brasil. Do ponto de vista político ‘pré-eleitoral’ de Bolsonaro isso é uma coisa que é comemorada”, finalizou.