28 de março de 2024
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Caminho para um SUS melhor pode ser Complexo Econômico-Industrial da Saúde, defende Vander

Em meio à crise do coronavírus, o País se viu dependente da importação de diversos produtos, como respiradores, além de outros mais simples, como máscaras e luvas.

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A pandemia de Covid-19 e a situação atual no Brasil de escassez de vacinas dominam o noticiário nacional. Para acelerar a imunização da população, o País precisa de doses e ingredientes farmacêuticos que estão longe, em países como Índia, Rússia e China.

"Temos um problema conjuntural derivado da crise sanitária global e da falta de planejamento e coordenação na esfera federal, mas também temos um problema estrutural de dependência tecnológica no Brasil", definiu Julia Paranhos, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do grupo de pesquisa "Economia da Inovação", em entrevista ao portal Outras Palavras este mês.

Diante desse cenário de dependência do Brasil, crescem as iniciativas em busca de uma solução para o problema. Uma delas é o conceito de Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis), amplamente defendido por instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e que encontrou ressonância no mandato do deputado federal Vander Loubet (PT-MS), que defende a adoção do projeto em Campo Grande e em todo o Mato Grosso do Sul.

"Hoje, a gente tem não só esse problema da dependência de insumos do exterior, como também a questão do achatamento do orçamento do SUS após a aprovação da PEC do Teto de Gastos, que nós, do PT, apelidamos de PEC da Morte, justamente porque está reduzindo o orçamento federal para a saúde pública. Então, precisamos com urgência pensar em projetos para otimizar a verba da saúde para melhorar o SUS e entender que esse caminho do Ceis é algo moderno e que pode ajudar", explica Vander.

De acordo com Carlos Gadelha, economista e pesquisador da Fiocruz, o conceito do Complexo Econômico-Industrial da Saúde foi desenvolvido no início dos anos 2000 para captar a relação entre saúde e desenvolvimento, a partir da perspectiva que considera a saúde e o sistema de produção e de inovação indissociáveis.

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Em meio à crise do coronavírus, o País se viu dependente da importação de diversos produtos, como respiradores, além de outros mais simples, como máscaras e luvas. A solução do problema, afirmou Gadelha ao jornal O Globo em recente entrevista, passa por colocar a produção desses equipamentos no centro da política nacional de desenvolvimento.

Responsável por apresentar o conceito do Ceis ao deputado Vander Loubet, o médico Ronaldo Costa é um entusiasta desse projeto. Ele defende que o Complexo Econômico-Industrial da Saúde é uma forma de o SUS ter protagonismo dentro da indústria da saúde, melhorando a gestão dos recursos e tornando o Sistema mais eficiente e eficaz.

"Hoje, a maior parte da indústria da saúde que atende ao SUS é terceirizada. Aqui em Campo Grande, por exemplo, você tem empresas privadas fornecendo todo o tipo de medicamento, empresas privadas fazendo exames variados, empresas privadas cuidando dos serviços de lavanderia... Esses recursos poderiam estar sendo aplicados pelo SUS dentro do próprio SUS", constata o médico.

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De acordo com o Dr. Ronaldo, um Complexo Econômico-Industrial da Saúde na Capital - que do ponto de vista físico pode ser compreendido como um grande hospital, como um complexo de saúde, como o próprio nome diz - poderia reunir serviços para atender toda a rede municipal de saúde.

"Campo Grande, em pleno período de pandemia, não tem um aparelho de Tomografia Computadorizada. Se tivesse o aparelho, não teria um Centro de Diagnóstico por Imagem, nem um Hospital onde pudesse ser instalado. Este tipo de serviço poderia estar no Complexo Econômico Industrial de Saúde, de forma a atender tanto os pacientes internados e em acompanhamento do Ceis, como os pacientes das unidades básicas e centros regionais de saúde", pontua.

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Perguntado sobre como seria esse modelo dentro de uma organização descentralizada, o médico explica que não há problema. "Digamos que precisássemos descentralizar a Tomografia Computadorizada para as regiões de saúde; as imagens poderiam continuar a ter os laudos emitidos a nível central pelos radiologistas. Não seriam necessários radiologistas para cada unidade de saúde. E, assim, esse raciocínio é aplicável para laboratórios, farmácia de manipulação de medicamentos, lavanderias, cozinha industrial e nutrição especializada, engenharia médica, tecnologia da informação em saúde, entre outros".

Questionado se já existem exemplos no Brasil de complexos econômicos-industriais da saúde e se são viáveis, Ronaldo Costa destaca que muitos de nós ouvimos falar diariamente desses exemplos, sem perceber que se tratam de modelos de Ceis.

"A Fundação Oswaldo Cruz [Fiocruz], o Instituto Butantan, o Hospital das Clínicas de São Paulo... todos são exemplos de Ceis. São centros produtores de tecnologias, serviços e produtos em saúde", cita.

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De acordo com o deputado federal Vander Loubet, é importante que o Ceis seja defendido não só para Campo Grande, mas para todo o Mato Grosso do Sul. O parlamentar afirma que pretende iniciar o debate sobre esse tema com os colegas de partido que estão na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal e que espera reunir apoio em torno da ideia.

"Precisamos avançar na modernização da gestão da nossa saúde pública. E entendo que esse conceito do Complexo Econômico-Industrial da Saúde tem potencial para que a gente possa aplicar melhor os recursos do setor e obter melhores resultados. O fortalecimento do SUS é fundamental para o Brasil, haja visto tudo o que estamos vivenciando neste período de pandemia", conclui o parlamentar.