25 de abril de 2024
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Campo Grande e Dourados reanimam PMDB e sucessão estadual tem novo cenário

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Quem imaginava que o quadro da sucessão estadual estaria definido e favorável a uma candidatura, precisou fazer novas avaliações. Mudanças no cenário e na relação de forças começaram a ser delineadas com a cassação do mandato de Alcides Bernal (PP) em Campo Grande e devem ser mais profundas ainda caso o prefeito Murilo Zauith (PSB) confirme seu afastamento da prefeitura de Dourados para concorrer ao governo do Estado.

Simples coincidência, golpe de sorte (para uns), manobras dignas de um capítulo na obra-prima de Maquiavel ou as três hipóteses estão corretas - porém, o fato é que os recentes acontecimentos nos dois maiores colégios eleitorais de Mato Grosso do Sul podem estar devolvendo ao PMDB um novo ânimo. Faltava ao partido do governador André Puccinelli um estímulo convincente para sair da incômoda posição de espectador do favoritismo do petista Delcídio Amaral e reinvestir suas esperanças na manutenção da hegemonia política e administrativa do Estado.

INFLUÊNCIA - Mais da metade do eleitorado sulmatogrossense está na região de influência de Campo Grande e da Grande Dourados e o PMDB retoma esses dois pólos regionais. Na capital, a queda de Bernal acende dois vetores capazes de obstruir o avanço do PT: um, o prestígio local incontestável e bem cultivada do ex-prefeito e pré-candidato Nelsinho Trad, reforçado pelo fracasso do sucessor; e outro, a presença marcante e politicamente efetiva da resistência peemedebista que procura se refazer do baque sofrido com a derrota de 2012.

Não é segredo a ninguém que escudeiros e operadores do PMDB estiveram o tempo todo trabalhando a derrubada de Bernal. Rei morto, rei posto, o vice Gilmar Olarte assumiu o trono e cercou-se de uma corrente protetora cujos elos principais fazem parte do projeto peemedebista de manutenção do poder. Exemplos gritantes dessa realidade sobram. O vereador Edil Albuquerque, ex-vice-prefeito de Nelsinho Trad,  aceitou licenciar-se do legislativo para ficar de novo à frente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. E a mexida de Olarte, que ao montar sua equipe tirou dois titulares da Câmara para permitir a ascensão de Magali Picarelli e Loester de Oliveira, suplentes comprometidos com Puccinelli e Nelsinho.

Em Dourados, o primeiro na linha de sucessão de Murilo Zauith é do PMDB, Odilon Azambuja. Especula-se que Murilo Zauith deixe o cargo na primeira semana de abril, para disputar o governo, cumprindo determinação do presidenciável do PSB, o governador pernambucano Eduardo Campos.

É quase tudo o que Puccinelli, Nelsinho e a vice-governadora Simone Tebet mais queriam no ano da sucessão: o PMDB com o controle de três das cinco maiores prefeituras (Campo Grande, Dourados e Três Lagoas, cuja prefeita é a peemedebista Márcia Moura). Ter um peemedebista no comando da prefeitura douradense é antigo e repetidamente frustrado sonho do partido.

EMBARAÇOS – Mesmo sem derrubar com o favoritismo de Delcídio, essas mudanças criam embaraços à escalada do petista, especialmente na construção de alianças fortes, como ele pretende. Por enquanto, a força partidária mais expressiva que se dispõe formalmente a acompanhá-lo é o PDT, cuja Executiva anunciou um compromisso de apoio, uma espécie de protocolo de intenções a ser avaliado e referendado ou não pelo Diretório. E existe também o interesse do deputado federal tucano Reinaldo Azambuja. Ele continua crendo ser possível ajambrar na sucessão estadual o que é impossível e impraticável na sucessão nacional: unir água e óleo, PT e PSDB.

A rigor, com este novo panorama o PMDB (leia-se André Puccijnelli) já não teria mais o grande apetite de antes para juntar-se ao PT e fazer tudo ficar mais fácil e menos dispendioso. Já se permite sonhar com a decolagem de Nelsinho ou lançar o “Plano B”. Entretanto, mesmo reanimados os peemedebistas não podem se esquecer que a possibilidade de PMDB, PT e PSB irem para o confronto vai provocar comichão nos tucanos e dar a Reinaldo Azambuja um peso ainda mais decisivo. E para todos os que vão se enfrentar em outubro, fica ainda mais viva a lógica irrebatível da política de que eleição não se ganha na véspera.

Edson Moraes, especial para MS Notícias