26 de abril de 2024
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MARCHA EMPACADA

Com dificuldades para viabilizar pré-candidatura, Miglioli começa a correr sozinho

A pré-candidatura de Miglioli não avança, tem reduzida visibilidade e segue restrita ao âmbito do partido

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Para quem obteve 347.861 votos na primeira eleição que disputou e foi quarto colocado entre os concorrentes a duas vagas no Senado, o engenheiro Marcelo Miglioli poderia – ou deveria – estar surfando numa onda política favorável. Mas não está. E a situação é das mais ingratas para um aspirante a cargo eletivo que tenta inutilmente seduzir aliados para a disputa da sucessão campo-grandense.

A pré-candidatura de Miglioli não avança, tem reduzida visibilidade e segue restrita ao âmbito do partido, o Solidariedade, empacada até em dificuldades elementares, entre as quais a falta de interesse de interlocutores de outras legendas ou organizações sociais para abrir conversação.  Assim, a cada dia que passa, com fevereiro chegando e as datas decisórias para a disputa eleitoral mais próximas, Migliolo começa a ter como sombra a imagem do candidato de si mesmo.

A FICHA 

Não é difícil analisar as conjunturas que envolvem a sua trajetória. Foi designado pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) para chefiar a Secretaria de Infraestrutura. No cargo, convivendo com prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e lideranças de quase 80 municípios, além de carimbar sua gestão com o grande volume de obras que Azambuja vem realizando em todo Estado, o olho cresceu e a mosca azul desceu para aplicar sua picada infalível.

Já no primeiro ano de secretário, em 2015, a luzinha da ambição política acendia com as manifestações de interlocutores municipais agradecidos pelas obras entregues, lançadas ou em execução. Sem perder tempo, Miglioli planejou sua chegada triunfal no cenário político. Decidiu filiar-se ao partido do governador, o PSDB. Buscou e recebeu dele o estímulo para disputar um cargo. A chance chegou em 2017, quando seu nome passou a figurar nas pesquisas como opção tucana para a disputa senatorial.

Azambuja resolveu prestigiar o seu secretário. Foi além do estímulo afetivo e político. Mobilizou o governo e os aliados. Chamou prefeitos, vereadores, deputados, dirigentes partidários, assessores e quem pudesse fazer parte de uma ampla mobilização para dar a Miglioli um maiúsculo respaldo eleitoral. Um dos prefeitos que entraram na corrente foi o de Campo Grande, Marquinhos Trad.

Com a liberdade e o poder que tinha, teve a seu dispor recursos, logística, mobilidade e pessoal para servir à sua campanha. Tanto que investiu pesado para entupir suas fileiras de apoio com legiões de vereadores recrutados em todas as regiões de Mato Grosso do Sul, numa empreitada politicamente caríssima e ousada. Dinheiro, influência, partidos, cabos eleitorais de elite e o empenho pessoal do governador, não precisava de nada mais a não ser dos votos para se eleger.

As urnas não o mandaram para Brasília, mas deram um aceno sorridente para o futuro. Miglioli tinha alcançado na estréia como político quase 350 mil votos, dos quais 96,4 mil em Campo Grande. Bateu outros seis concorrentes, entre os quais dois gigantes, o ex-governador Zeca do PT e o ex-senador Delcídio do Amaral. Não era um resultado qualquer. Tinha tudo para alçar outros voos: apoio e amizade do governador, relação das mais providenciais com várias lideranças de peso, entre elas Marquinhos Trad, um partido forte e competitivo.

Mas Miglioli preferiu voar rasteiro, no chão do ressentimento e da ingratidão. Culpou terceiros por não ter conquistado a vitória. Pôs defeito na formação da aliança, achou que o governador não forneceu todo apoio necessário, considerou que o partido não se empenhou como deveria. Chutou o balde onde bebia água limpa, deu as costas a todo mundo e ao Estado, mudando-se para São Paulo, levando consigo as pechas de traidor e ingrato.

Poucos meses depois resolveu voltar e apresentar-se aos sul-mato-grossense com um discurso de renovação e salvador da pátria para ilustrar a intenção de candidatar-se a prefeito de Campo Grande. Filiou-se ao Solidariedade com projeções mirabolantes. Faz os dirigentes do partido acreditarem que tem “bala na agulha” para bancar a sua e as demais candidaturas proporcionais. A conta não será pequena. Vai além de grande.

O deputado Lucas Lima, que quer a reeleição, e os deputados estaduais Herculano Borges e Lucas Lima, “padrinhos” de dezenas de pré-candidaturas na capital e no interior, contam com o oxigênio de Miglioli para dar fôlego a suas campanhas. Sem governo e sem a estrutura humana e operacional que teve com o governador, é certo que Miglioli deve ter trunfos ainda não conhecidos para provar ao Estado que não é um aventureiro de palavras fáceis.

Complicado para ele será convencer o eleitorado que bem conhece seu meteórico e desastrado protagonismo nas recentes eleições, sobretudo pelos motivos que o fizeram ser carimbado com a fama de traidor e ingrato. Uma fama que se justifica nos seus mais recentes pronunciamentos, nos quais procura atingir brutalmente aqueles de quem teve apoio e incentivo para fazer a boa política – e não fez.

Sem encantar forças políticas que animem seu projeto, Miglioli se vira como pode. Um dos arranjos para ter visibilidade é gravar vídeos para divulgar suas mensagens de “bom mocinho” com soluções para tudo e apontar erros em quem escolheu como adversários. Um é Marquinhos Trad, alvo desta abordagem que faz aos eleitores em um vídeo:

“Você sabe muito bem que a atual administração [a de Marquinhos] faz de contas que os problemas da cidade não existem. Se é problema, o prefeito passa longe. Por isso eu te convido para participar do nosso projeto Pense Grande, Campo Grande, que vai apresentar as dificuldades de cada área e, o que é mais importante, as possíveis soluções para resolver ou amenizar os problemas. Participe mandando seu vídeo dos problemas de seu bairro e nós vamos responder como é possível resolver. A denúncia é útil e muitas vezes apressa uma solução.  Denuncie. Você paga impostos e tem direito de viver numa cidade melhor”.

É assim que Marcelo Miglioli se revela aos 600 mil campo-grandenses que vão às urnas em outubro para escolher o próximo prefeito da cidade. A eles o hoje pré-candidato do Solidariedade precisará mostrar e demonstrar que é digno de confiança, que é fiel aos que nele confiam e não cospe no prato em que lhe deram de comer.