A recente troca de comando no Ministério da Previdência não foi suficiente para conter os desdobramentos da crise provocada por um esquema bilionário de fraudes no INSS, que teve início no governo de Jair Bolsonaro (PL) e ocorreu até 2023.
Na sexta-feira (2.mai.25), após pressão crescente, o então ministro Carlos Lupi (PDT) entregou o cargo ao presidente Lula.
Foi imediatamente anunciado que seu secretário-executivo, Wolney Queiroz, assumiria a pasta, o que gerou reações no Congresso.

Parlamentares da oposição já articulam convocações para que Queiroz explique no Legislativo sua participação na reunião em que a fraude foi denunciada em 2023.
A principal crítica é que, mesmo ciente das irregularidades, Lupi só teria tomado providências no ano seguinte, o que teria contribuído para sua queda.
Queiroz, presente no encontro citado, agora também é alvo de questionamentos sobre sua conduta diante das denúncias.
A escolha de um aliado direto de Lupi foi vista como uma tentativa do governo de evitar fissuras no PDT, que ameaçava deixar a base aliada.
No entanto, a nomeação não agradou a todos dentro do partido, como mostrou a reação dura de Ciro Gomes, que classificou a decisão como “indignidade inexplicável”.
Apesar disso, a posição de Ciro é isolada entre os pedetistas, e a maioria da sigla apoiou o novo ministro.
Para analistas, como Eliane Cantanhêde, Lula desperdiçou a chance de fazer uma nomeação técnica e simbólica para marcar o rompimento com o escândalo.
Segundo ela, o presidente preferiu preservar a aliança política a indicar um nome externo que demonstrasse rigor e independência.
Enquanto isso, o governo elabora um plano emergencial para ressarcir vítimas que tiveram benefícios descontados de forma irregular.
O “Plano de Ressarcimento Excepcional”, desenvolvido pelo INSS e a AGU, prevê que aposentados apresentem registros para análise caso suspeitem de descontos indevidos.
Ainda sem data de implementação, o plano precisa passar pela análise da Casa Civil antes de ser anunciado oficialmente.
Há dúvidas sobre a capacidade do Estado de recuperar todos os valores desviados, já que os bens apreendidos dos investigados podem ser insuficientes.
A situação ocorre em meio à lenta reforma ministerial prometida por Lula, que tem avançado com cautela.
Uma das poucas trocas confirmadas é a substituição da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, por Márcia Lopes, figura próxima ao presidente.
O anúncio é esperado para hoje, antes da viagem de Lula à Rússia, onde participa de cerimônias alusivas à Segunda Guerra.