“O italiano é que nem o Londres Machado. Não deixa companheiro na estrada”.
A afirmação foi feita em Rio Negro esta semana, durante inauguração do asfalto de uma rodovia e entrega de obras - por graduado líder político a aflito vereador peemedebista do interior, preocupado com seu futuro a partir do próximo ano, quando o comando o comando político-administrativo no Estado já não estará mais nas mãos de André Puccinelli. Em dias anteriores, idêntica aflição foi manifestada por interlocutores aliados que estiveram com o governador e queriam saber o que farão depois que o tucano Reinaldo Azambuja assumir.
A todos, Puccinelli tem tranquilizado e não raras vezes, na conversa miúda, sussurra aos correligionários que seu sereno político vai dar prioridade à família, aos netos, às pescarias e, também, à agenda política, com ênfase no suporte aos correligionários e aliados. “Eu não abandono companheiro”, enfatizou, categórico, realçando um dos itens mais reconhecidos da personalidade de outro emblema humano da política guaicuru, o deputado estadual Londres Machado. Coincidência: o paulista Londres e o ítalo-brasileiro Andrea Puccinelli (nasceu em Viarreggio) viveram, conviveram e se revelaram para a política em Fátima do Sul.
A preocupação dos parceiros políticos já faz parte das projeções de Puccinelli para quando entregar o cargo e ingressar na cena do cidadão comum. Ele não briga com todas as evidências, pois sabe que de alguns contextos não poderá escapar. E um desses contextos é a quase dependência que o PMDB tem de sua liderança, especialmente agora que o partido vem de duas derrotas impactantes nas urnas (para a Prefeitura de Campo Grande e na sucessão estadual).
Puccinelli já assimilou o golpe e entende ser fundamental estar presente no processo de reorganização e revitalização do PMDB para as disputas eleitorais de 2016. Eleger o maior número de prefeitos e vereadores será um passo vital para recuperar a plenitude da auto-estima da militância e não deixar dúvidas sobre o poder popular do partido. A força do PMDB já foi, de certa forma, testada e confirmada nas eleições deste ano, quando o partido elegeu a maior bancada da Assembleia Legislativa.
CERTEZA E INCÓGNITA - Apoiar e orientar os filiados e pré-candidatos do PMDB no interior é ponto pacífico para Puccinelli. Mas é uma incógnita o seu papel na disputa campo-grandense. Ele afiança não ter a intenção ou o interesse de candidatar-se a prefeito. Porém, pouquíssima gente acredita nisso. Sem Puccinelli, o PMDB fica com poucas opções competitivas na capital, e a principal, ao que tudo indica, é o deputado Marquinhos Trad, seguramente um nome que não pontua no topo das preferências do atual governador.
Alguns peemedebistas e aliados, com chances de concorrer às prefeituras dos maiores colégios eleitorais do interior, já receberam a sinalização de Puccinelli para que viabilizem-se politica e estruturalmente e consolidem seus projetos. Em Dourados, por exemplo, segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, o deputado federal Geraldo Rezende ganhou com sua segunda reeleição um estímulo considerável para largar com destaque nessa corrida.
Mas o PMDB ainda desenha seus projetos e aspirações para garantir as prefeituras que já tem – como as de Amambai, Nova Andradina, Três Lagoas, Ivinhema e Rio Brilhante – e tomar cidades onde não tem hegemonia, como Corumbá, Ponta Porã, Jardim, Paranaíba e Coxim. Outro complicador para o partido é a força emergente de legendas como o PSDB, que desalojou o PMDB da Governadoria, e o PP, dono da verdadeira façanha que foi destronar os peemedebistas em Campo Grande.
Com isso, mesmo assegurando tempo maior para ser motorista de netos e relaxar de caniço e samburá à beira do rio, Puccineli não deixará adormecer o animal político que vive dentro dele.
Edson Moraes