26 de abril de 2024
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Médico realiza parto e esquece gaze dentro da paciente em Campo Grande

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A manicure Ana Carolina Xavier, 24, está se recuperando do trauma que vive após o parto de sua primeira filha, que ocorreu na Santa Casa há 25 dias. Devido a um erro médico, Ana voltou para casa com uma gaze esquecida dentro de seu corpo. A descoberta do problema aconteceu na última segunda-feira quando a manicure conseguiu tocar o material cirúrgico e retirá-lo por conta própria, depois de ter passado semanas sentindo forte odor em todo corpo.

Ana conta que, no dia 28 de outubro, recebeu alta dos médicos da Santa Casa e que o procedimento ocorreu dentro das normalidades, porém, na mesma semana a jovem começou a sentir dores intensas constantemente. Além disso, para agravar ainda mais sua situação, Ana se viu envolta a um forte e desagradável odor que, segundo ela, era “insuportável”.

“Além da dor o mais difícil foi o constrangimento que passei, o mau cheiro era muito grande, eu estava apodrecendo e ninguém conseguia ficar perto de mim, eu não dormia nem com meu marido por conta disso, era insuportável”, afirma.

Preocupada, a manicure procurou atendimento na UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro Nova Bahia no dia 2 de novembro, porém, nada foi resolvido. “Na consulta o médico disse que tudo aquilo era normal, me receitou apenas cefalexina e um spray para inflamação e me mandou voltar pra casa”, disse.

Mesmo tomando corretamente os medicamentos receitados, a dor e odor forte aumentavam ao invés de diminuir. Como o problema não se resolvia nem havia sido explicado, a manicure procurou novamente a unidade de saúde do Nova Bahia no dia 7 de novembro, e durante o atendimento com a ginecologista de plantão, Ana afirma que não recebeu o atendimento adequado. “A doutora me atendeu com má vontade, fez muito pouco caso do meu problema e além de mal me olhar disse que tudo aquilo era normal e que eu deveria esperar por 30 dias em casa”, relembra.

Não satisfeita com o diagnóstico, na última sexta-feira, a jovem retornou ao posto de saúde, porém, após esperar quatro sem ser atendida, desistiu e voltou para a casa. Depois de passar mais um final de semana com dores agudas na região do abdômen, Ana teve uma surpresa. Durante uma crise de dor, ela sentiu algo estranho em seu corpo, e, ao se tocar, percebeu que realmente havia um material estranho dentro de si.

Envolvida pelo desespero, Ana conta que puxou, rapidamente, o objeto e constatou que se tratava de um pedaço de gaze que havia sido esquecido dentro dela. “Na hora fiquei desesperada, comecei a chorar e gritei pela minha mãe. O cheiro que saia da gaze era muito forte, foi assustador”, disse a jovem que traumatizada afirma não acreditar mais na eficácia da rede pública de saúde.

“Só eu sei o que eu passei por conta do erro deles, depois disso não dá pra confiar no trabalho dos profissionais dos postos de saúde. Como vou confiar e levar minha filha a um lugar desses, quem me garante que o que eles falarem vai estar realmente certo”, conclui.

Vítimas de erros médicos: De acordo com o presidente da Avem- MS (Associação de Vítimas de Erros Médicos de Mato Grosso do Sul) Valdemar Moraes casos como o da manicure Ana Carolina são comuns no Estado, contudo, a associação tem trabalhado no combate a esses “acidentes” e na assistência gratuita às vítimas. “Temos trabalhado muito para que erros como este não ocorram, e que de fato haja punições, além disso, prestamos assistência psicológica para que os pacientes não venham desenvolver um quadro de depressão”, relata o presidente.

Já o presidente do CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul), Aberto Cuber, em casos de erro médico cabe ao Conselho abrir um processo de investigação para apurar a veracidade dos fatos. Alberto explica que são recolhidas todas as provas possíveis, que, posteriormente, são entregues a um conselheiro sindicante que produz um relatório e o  encaminha à Câmara de Julgamento. “Todo esse processo pode durar até dois anos”, afirma Alberto.

Alberto garante que casos como o de Ana se tratam de exceções. Segundo ele, dos 4.500 médicos que atuam no Estado apenas 5% enfrentam problemas com o CRM. “As pessoas pensam que erro médico é algo rotineiro e do dia-a-dia, porém 95% dos médicos nunca tiveram problema”, esclarece.

Conforme o presidente, existem, atualmente, cerca de 200 processos em trâmite motivados por erros médicos e que, em um plano geral, 60% dos processos resultam na abertura de sindicâncias e dessas 40% geram condenação.

Cubel afirma que a negligência é a principal denúncia contra os médicos. Ele cita, por exemplo, a falta aos plantões, atrasos e imprudência. Para solucionar esses problemas, o presidente afirma que são realizadas ações de conscientização junto aos profissionais da saúde no Estado. “Fazemos orientações aos profissionais através de cartilhas, palestra, até no próprio site do CRM existem orientações básicas aos doutores, além disso, fazemos viagens ao interior para verificar a situação dos médicos no interior”, conclui.

Clayton Neves