29 de março de 2024
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Atendimento infantil deve ser feito por pediatras para evitar danos ao paciente, defende SBP-MS

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Na última sexta-feira, o prefeito de Campo Grande Gilmar Olarte fez uma declaração polêmica. Questionado sobre a falta de pediatras nas unidades de saúde da Capital, Olarte anunciou que pretende treinar clínicos gerais para atuarem como pediatras nas unidades de atendimento emergencial e nos postos de saúde da Capital.

A notícia, claro, gerou polêmica, e causou apreensão nos pediatras e também na população campo-grandense. Embora a falta de pediatras seja um problema grave na Capital, na sexta-feira, por exemplo, havia apenas cinco pediatras no Cempe (Centro Municipal Pediátrico), e cinco na UPA (Unidade de Pronto Atendimento Infantil) Cel Antonino, colocar clínicos gerais para atender crianças é uma decisão que pode acarretar prejuízos à saúde infantil, conforme explica a presidente da SBP-MS (Sociedade Brasileira de Pediatria) de Mato Grosso do Sul. 

"A fala do prefeito foi muito polêmica, porque não existe isso de treinamento na pediatria. O atendimento à criança é feito por médicos especialistas, que depois de formados ainda fazem residência em pediatria, que são mais dois anos. Muitos pediatras têm outras especialidades dentro da pediatria", avalia Tânia.

Segundo Tânia, para que um médico possa atuar como pediatra, o ideal é que além da residência em instituição reconhecida pelo MEC (Ministério da Educação), ele seja titulado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, após realização de uma prova. "Esta é a situação ideal porém, ainda existem alguns pediatras que contam apenas com a residência, mas vale ressaltar que são dois anos de residência em instituição reconhecida pelo MEC", explica.

Para a presidente da SBP-MS, é inaceitável que um profissional receba um "cursinho" para se tornar pediatra. "Qual seria esse treinamento? Quem daria o treinamento, seriam pediatras. Agora, por que fazer um treinamento se existem na Capital inúmeros pediatras competentes para atender nas unidades de saúde?", questiona Tânia.

Para ela, o problema da falta de pediatras nas unidas de saúde da Capital é causado por deficiências na administração, o município não deveria oferecer um atendimento paliativo, que poderia inclusive ser prejudicial às crianças, ainda mais em atendimentos emergenciais, como propôs o prefeito, justamente por tratarem de quadros clínicos mais graves.

Conforme Tânia, nas unidades de pronto atendimento, a maioria das crianças chega com febre, dores de garganta, que, aos olhos de um clínico geral podem ser apenas doenças simples, de fácil diagnóstico, porém, a especialista explica que muitas vezes essas "doenças" são apenas sintomas de algo mais grave, o que é de fácil diagnóstico para um especialista.

Erros de diagnóstico

Uma das preocupações da SBP-MS é em relação a possíveis erros de diagnósticos devido á complexidade da medicina infantil.

"Doenças infecciosas, ou situações conhecidas e de fácil diagnóstico, é possível de um médico reconhecer e poder manusear, mas a criança não é só isso. A criança que vem ao pronto atendimento vem com uma febre, uma dor de garganta ou gripe e ali são descobertos outros concorrentes que podem estar afetando o desenvolvimento da criança e podem evoluir para quadros graves. Nesses casos, o profissional treinado, especializado em pediatria saberá exatamente como proceder". Tânia reitera que a SBP-MS vê a declaração do prefeito com muita preocupação porque a qualidade de atendimento não estará garantida.

"O que precisamos é de aproximação dos pediatras com a população. E a população não deve aceitar isso. As crianças devem ser bem atendidas e por isso não devem aceitar essa condição. Se você me perguntar se isso é ilegal, eu vou dizer que não é ilegal, o médico que se acha capaz ele pode atender, isso não é ilegal, mas até o CRM não vê isso como uma coisa ética porque ele não foi habilitado para aquela atuação, assim como um  pediatra não pode fazer uma cirurgia cardíaca ou neurológica. Cada macaco o seu galho. E a população quer uma pessoa habilitada para dar o atendimento adequado".