26 de abril de 2024
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LÍDERES POLÍTICOS

Bolsonaro usa mesma estratégia de Hugo Chávez e diz ser "a Constituição"

Presidente recuou à posicionamento de domingo, em manifestação pró-golpe

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 O presidente Jair Bolsonaro, foi ontem (20.abril), pela manhã, até a porta do Palácio da Alvorada, e como em um ensaio, desfez tudo o que propagou no dia anterior. O sofismo praticado por Bolsonaro se assemelha ao que era praticado pelo coronel Hugo Chávez na Venezuela, que também se cercou de militares. E era isso que se via em Miraflores, uma presidência militarizada. Chávez atacava diariamente a imprensa, os partidos que não se submetiam a ele, a Justiça e estimulava a polarização. Nos seus discursos, ele dizia falar pelo povo. Chávez dizia que, com ele, o povo estava no poder. E ontem, Bolsonaro equiparou-se ao 'democrata-ditador', ao dizer que “Ele é a Constituição”, desse modo, se colocou acima da Lei brasileira, do pacto feito pelo povo e militares em 1988.

Hugo Chávez ficou famoso na Venezuela, principalmente por anunciar na TV nacional que seus companheiros largassem as armas, pois haviam sido momentaneamente derrotados. Após ao menos três derrotas de toamada do poder, Hugo Chávez percebeu que a tomada da Venezuela não se daria pela força. Assim, decidiu que concorreria à presidência do país e alcançaria o poder pela via político-partidária. Para isso, Chávez e outras pessoas da esquerda venezuelana fundaram o Movimento V República, também conhecido como MVR. O movimento teve apoio da esquerda pois prometia reconstruir a democracia da Venezuela, aproveitando-se do principal produto do país: o petróleo

O movimento conseguiu conquistar o apoio da população do país, saturada com o sistema político da Quarta República, marcado pela corrupção, comprou o discurso de Chávez.  Hugo Chávez aparecia como uma via radical para a Venezuela e sustentava-se como  o Polo Patriótico, que por meio da democracia, chegaria ao poder em 1998, quando Chávez foi eleito com 56% dos votos, empossado em 1999.  

Hugo Chávez chegou ao poder pela trilha democrática, e disputou todas a vezes, eleições, mas adotou medidas ditatoriais no país latino-americano, ao longo dos 14 anos que governou. Foto: Reprodução

Esse foi o início do chavismo na Venezuela, um regime observado por cientistas políticos como um 'governo populista' que contribuiu abertamente para o enfraquecimento do sistema democrático. Uma das principais ações de Hugo Chávez em seu governo foi a promoção de ações que foram responsáveis pela distribuição de renda no país. O sucesso do chavismo em promover melhorias na vida da população mais pobre do país garantiu um forte apoio dessa população ao projeto político chavista e com isso, surgiu a oposição ao chavismo nas classes mais elevadas do país, contrárias a esses programas de bem-estar social.

CARACTERÍSTICAS DO GOVERNO DE CHÁVEZ

Socialismo imposto na América Latina através da Revolução Bolivariana;
Manutenção de um estado forte e consolidado;
Incentivo às estatais, ignorando a iniciativa privada (nesse ponto Chávez diferencia-se de Bolsonaro);
Redistribuição da renda provinda do petróleo para toda a população;
Governo populista, polêmico e repressivo;

O golpe contra Chávez, veio das classes mais ricas da Venezuela que não estavam satisfeitas com os programas do governo Chávez, principalmente pela postura do presidente em combater os privilégios das classes altas como forma de promover a distribuição de renda. Com isso, uma conspiração começou a ser organizada contra o governo e colocada em prática em 2002.

O golpe contra Chávez foi organizado por membros do exército em 11 de abril de 2002 e foi nomeado Pedro Carmona como presidente do país.

A resistência chavista, garantiu que, em 14 de abril, o golpe contra Chávez fracassasse, e, assim, o presidente foi reconduzido ao poder. Ao sobreviver ao golpe, Chávez saiu politicamente fortalecido e começou a criar mecanismos para reforçar o seu poder. Fortaleceu sua posição no Executivo, enfraqueceu os alicerces da democracia venezuelana e reforçou seu poder aliando-se com os militares.

Em 2006, nova eleição presidencial foi realizada, e Hugo Chávez alcançou nova vitória, conquistando 63% dos votos. Essa vitória reforçou seu poder e o de seu projeto, conhecido como bolivarianismo ou, nas palavras de Hugo Chávez, “socialismo para o século XXI”.

O governo chaves só foi interrompido em em 5 de abril de 2013, após ele falecer em decorrência de Câncer. Ele governou ao longo de 14 anos. 

O governo de Hugo Chávez é controverso, pois, ao mesmo tempo que implantou medidas para combater a desigualdade social, diminuir a pobreza, também implantou medidas que enfraqueceram a democracia da Venezuela, como o aparelhamento do Supremo Tribunal do país. O governo de seu sucessor, Maduro, acabou agravando a situação interna da Venezuela.

BOLSONARISTAS EM RETÓRICA 


O vice-presidente, Hamilton Mourão, o ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Onyx Lorenzoni e o presidente Jair Bolsonaro. Foto: Rafael Carvalho/ Casa Civil

A retórica, se faz quando os “bolsonaristas”, criticam duramente a Venezuela, sempre referindo-se ao país, como o futuro, sem a administração encabeçada por Jair Bolsonaro. A oposição, quer apresentar pedido de impeachment do presidente.  .

Bolsonaro recuou bruscamente, dizendo que ele não pediu fechamento do Congresso Federal ou Supremo Tribunal Federal, no entanto, os signos de sua presença no domingo (19),  em frente ao quartel-general do Exército em Brasília,  falando com um grupo de apoiadores que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal e intervenção militar com a edição de um novo AI-5, o mais radical ato institucional da ditadura militar (1964-1985), não são tão fáceis de serem ignorados. 

O presidente subiu na picape domingo para afirmar que não negociaria. Enquanto isto, está em fase de negociação aberta de troca de cargos por votos com partidos do Centrão, no Congresso.

EXALTOU O GOLPE

 O presidente Jair Bolsonaro . Foto: Ed Alves/CB/D.A Press

Em 31 de março desse ano Bolsonaro exaltou o golpe, dizendo que ele fora feito para defender a democracia. Na data em que é lembrado o fatídico dia da deposição do presidente João Goulart, em 1964, início de uma ditadura de 21 anos que cassou direitos políticos, exterminou adversários e censurou a imprensa e a cultura.  Com cartazes padronizados, no último domingo, os manifestação se apoiavam na falácia de que estava havendo, um plano para “derrubar o Presidente”, tensão estimulada pelo próprio chefe do Executivo. 

Bolsonaro ensaiou o recuo: “Sem essa coisa de fechar” ... “Aqui não tem que fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia, aqui é respeito à Constituição brasileira. E aqui é minha casa, é a tua casa. Então, peço por favor que não se fale isso aqui. Supremo aberto, transparente. Congresso aberto, transparente.” ... “Em todo e qualquer movimento tem infiltrado, tem gente que tem a sua liberdade de expressão. Respeite a liberdade de expressão. Pegue o meu discurso, dá dois minutos, não falei nada contra qualquer outro poder, muito pelo contrário” ... “Eu sou realmente a Constituição.”, são as falas do presidente. 

BRIGA PELO EMPRESARIADO

Almoço de Bolsonaro com empresários na Fiesp reuniu seis ministros e 40 executivos e acionistas de grandes empresas em 05 de março de 2020, em Brasília. Foto: Alan Santos/PR

Toda a briga do presidente, é em favor de “três ou quatro, poderosos”, que praticamente mandam no País. Esses empresários querem a reabertura das cidades e mercados e que o povo volte a trabalhar, para gerar riqueza para eles. Mas usam o discurso de que o “povo vai passar fome”, no entanto, milhares de pessoas passam fome no país, com tudo funcionando, e nunca isso foi problema para esses empresários. Bolsonaro, colocado no poder por eles, se vê na obrigação de lutar até o fim, para proteger o Capital, e faz uso do que ele é mestre, o sofismo, poder de tornar suas ações erradas frente ao enfrentamento da pandemia, em propostas de socorro do Capital.  

Mas, as águas começam a mudar. Apesar de Bolsonaro e Bolsonaristas dizer que as “mortes são fakes”, que “não é tudo isso”, e que a “mídia mente sobre os números”, não está sendo mais possível sustentar esse discurso, momento em que chefes do executivo de cidades, choram em rede nacional, pedindo que o presidente governe com respeito pelas vidas. 

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), contou que a capital do Amazonas já não vive uma emergência, mas um estado de calamidade. A cidade tem, até o momento, 1.664 casos de contaminação pelo coronavírus, além de 156 óbitos. O estado tem taxa de ocupação de 90% de seus leitos de UTI, cálculo que Virgílio considera exageradamente otimista.

No domingo (19.abril), 17% das 122 pessoas enterradas em Manaus morreram em casa, à míngua, sem o devido socorro. Na segunda (20), a taxa subiu para 36% dos 106 mortos.