25 de abril de 2024
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Editorial

Indefinições na escolha de um PMDB que não pode perder mais uma eleição

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Os afoitos são os que se queimam, os prudentes aguardam, assim é na política. Enquanto buscam entender como o eleitor reagirá às modificações das regras eleitorais, políticos lançam balões de ensaio apenas para não cair no ostracismo. Portanto esqueçam aqueles que são lançados pelos cardeais da política sul-mato-grossense como eventuais candidatos. Servem apenas para medir a temperatura dos adversários.

É melhor sempre dirigir algo que se possa prever os parâmetros, e o PMDB, até pela tradição que carrega desde sua criação, em plena ditadura, quando foi a grande arca que abrigou todas as tendências que não compactuavam com o golpe que nos usurpou o país, convive por entre as chamas da imensa fogueira de vaidades, quase impossível de comportar critérios. Se fossem lógicos, ainda assim exigiriam especial atenção, como abrange duas vertentes extremamente subjetivas, a política e o ser humano, quase impossível.

E agora PMDB? André está sem cargo, mas não sem poder. Seus '‘homens’' estão em posições-chave e ninguém duvida de seu poder. Tem ascendência sobre o executivo, o legislativo e o judiciário, ainda que cada poder negue haver a reverência e cante hinos de liberdade.

Mas os reis precisam, de tempos em tempos, medir a temperatura de seus súditos. E André pode ter cometido erros, mas uma de suas virtudes é aprender com eles. Enquanto tantos querem ganhar no varejo, ao ex-governador interessa o poder, não no atacado, mas pleno.

Já ensaiou o nome de Edson Giroto, que hoje faz parte do PR, como já fez no passado, mas que age sob ordens e em função de André. Mediu a temperatura das gritas e descartou um dos caminhos. Permite-se um tanto de benevolência ao não descartar o nome de Marquinhos Trad, coisa que sequer o agraciado acredita. Pensa em Marun, seu, agora, deputado federal para todos os serviços e que para os outros é sempre uma ameaça viva, porque se André quiser, faz dele prefeito. Enquanto isso observa a movimentação de outros postulantes e prováveis, ou improváveis, adversários.

Paulo Siufi construiu uma trajetória que o habilita a pleitear a condição, pelo menos, de pré-candidato. Com menos tempo de casa, mas também com um nome de destaque, Mario Cesar articula melhor nos bastidores. Antonieta Amorim vem no embalo do esplendor que lhe causa sair da condição de primeira-dama do município e ganhar luz própria. Moka é matematicamente improvável, afinal não tem tendências suicidas de trocar uma quase certa reeleição ao Senado e arriscar a prefeitura de uma cidade que já pouco conhece, em função do afastamento geográfico que mantém dela.

Então, em tempos de reforma política, com o fim da coligação nas proporcionais, o Ás está nas mangas ou nas mãos dos adversários.

O PT sabe que se houver um nome forte do PMDB para concorrer à prefeitura da Capital, André vai com chances para a disputa do Senado, fazendo uma trinca peemedebista: Simone que ainda tem sete anos de maré mansa, Moka que dificilmente deixará escapar o cargo, e ele próprio, Puccinelli, que teria forças para confrontar Delcídio do Amaral, candidato de um partido que, por mais que tente e prometa, tem um rompimento tão profundo e consolidado entre dois grupos que é praticamente impossível que siga uníssono, mesmo que signifique sua sobrevivência imediata.

Então, hoje – e notem que se pode falar apenas em hoje, como se fosse uma pesquisa a mostrar um recorte de momento – teríamos pouquíssimos partidos capazes de lançar nomes em condições de aglutinar forças e votos.

Vejamos:

Alcides Bernal cuja cassação, numa trapalhada de uma das mais fracas legislaturas da Câmara, ainda faz o eleitor sentir o cheiro de golpe. Pode aglutinar o voto de tantos descontentes com os rumos que a Capital dos sul-mato-grossense vem tomando nas mãos de um prefeito trapalhão com as bençãos e a proteção de uma Câmara sob suspeição.

Gilmar Olarte (sabe-se lá em qual partido) terá que confiar nos milagres que prega do púlpito de sua própria igreja e fonte de receitas, além de escapar de um processo que vai capenga, mas ainda não está arquivado e morto.

Dagoberto Nogueira (PDT) que costuma desmentir as mais científicas previsões e promover reviravoltas quando todos acreditam que está morto politicamente. Mesmo assim difícil, porque dessa vez não teria um grande padrinho a lhe bancar verbas e votos.

O PSD pode vir com a força que o empresário Antonio João acredita ter e o peso de seu jornal diário, que perde credibilidade, mas que ele parece não enxergar. Provavelmente tenha mais força para complicar o quadro do que, efetivamente, vencer uma eleição para o executivo.

Marquinhos Trad, aboletado em outro partido, mas que para isso teria que ficar por um ano no sereno, sem a visibilidade que a Assembleia lhe proporciona. Está difícil uma brecha de filiação em nova legenda (e teria que ter peso) por fusão. Ainda que consiga um PTB ou DEM, o momento é de desgaste para o clã Trad, o que descarta também o deputado federal Luiz Henrique Mandetta, também ele envolvido nos escândalos Nelsinianos. Os flancos abertos pelo ex-prefeito Nelsinho Trad, são, na verdade, chagas abertas.

E se o ex-governador tem como predicados e defeitos a raposice e a teimosia, ainda que difira no estilo, o atual governador Reinaldo Azambuja (PSDB) não difere no conceito. Portanto, seja qual nome que venha a ser indicado pelos tucanos, será “o adversário a ser derrotado”. Hoje o espaço está ocupado pela vice-governadora Rose Modesto, e seu nome deverá se fortalecer caso seu irmão, o deputado estadual Rinaldo Modesto e outros aprendizes de cacique peessedebista, evitem outras sandices que ajudam apenas aos participantes e afundam todo o resto.

A questão PT é diferente, porque improvável. Os nomes fortes, não querem se arriscar numa Capital que sempre se apresentou como foco de oposição à sigla. Exceto pela histórica eleição dos 411 votos, pouco mais o Partido da Estrela conseguiu em Campo Grande. Seus candidatos à presidência perderam todas as eleições por aqui; seus candidatos ao governo, idem, sem mencionar Vander Loubet e Pedro Teruel, heroicos guerreiros lançados às feras em outros tempos.

Mas, se José Orcírio Miranda dos Santos, o ex-governador Zeca do PT, tranquilo com o mandato de deputado federal que manterá em caso de derrota, lançar seu nome, ai então André Puccinelli esquecerá o Senado, os amigos, as articulações e terá que colocar seu nome à prova, para não dar vazão às dúvidas de ter amarelado contra o mesmo Zeca em eleição passada. Seria um bom embate, seria uma perigosa aposta para um ou para outro.

Por que tanto cuidado? Porque derrotas para o Senado (exceto Moka) e para a Capital pode significar um futuro longo ostracismo político para a sigla. Quem sobraria sem André Puccinelli, com os vereadores maculados por uma Câmara que vive sob a desconfiança da população e ex-poderosos na mira da Justiça?