19 de julho de 2025
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PARTIDO DOS TRABALHADORES

Vander vê PT maduro e sugere saída 'pela porta da frente' do governo Riedel

PED mobiliza militância com foco em organização, formação e comunicação

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No próximo domingo, 6 de julho, será realizado o primeiro turno do Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, para escolha das direções partidárias em todos os níveis. Em Mato Grosso do Sul, o deputado federal Vander Loubet concorre à presidência estadual do partido, numa disputa marcada por propostas de renovação e fortalecimento da base partidária.

Vander atribui à característica democrática do PT o fortalecimento do processo interno. “Eu estou muito determinado e empolgado. Acho que esse processo interno democrático, eleição direta... só um partido como o nosso tem essa capacidade de fazer. A disputa é legítima, está servindo para mobilizar a nossa militância, dialogar", introduziu em entrevista ao MS Notícias a 2 dias do pleito.  

Ele destacou a amplitude da campanha e o engajamento da base. “Eu visitei praticamente o estado todo, a maioria dos municípios. Só nesta última semana, eu visitei 35 municípios. E, assim, estou encontrando uma militância muito empolgada também, sabe?”, contou.  

Para Vander, o volume de eleitores representa força partidária. “Acho que vamos fazer um belo encontro. Devemos ter mais de 7 mil filiados votando aqui no estado. Isso mobiliza a nossa militância. Eu sinto, pela minha história política, pela minha militância de 45 anos no PT, uma empolgação muito grande. Eu sinto que a maioria percebe aquilo que eu quero, a mensagem que eu quero passar, que são três coisas”, que ele lista abaixo.

  • ORGANIZAÇÃO, FORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

O candidato apontou como primeiro pilar a identificação da base. “Primeiro, fazer um PT investindo na questão da organização partidária, descobrir onde estão os nossos filiados e quantos somos. Eu vou fazer um mutirão para, de fato, chegar no número mais próximo do real — daqueles que já se desfiliaram, que já saíram, que já faleceram — usando algum tipo de tecnologia que faz o cruzamento entre os nomes que estão no TRE e a listagem que o PT tem. Para, de fato, podermos dialogar diretamente com essas pessoas.”

Em seguida, ressaltou a importância da formação. “Eu vou atrás do nosso Instituto Perseu Abramo [centro de estudos políticos e de formação do Partido dos Trabalhadores]. Esse pessoal precisa vir aqui, montar equipe para nos ajudar. Primeiro, construir uma equipe, um grupo de pessoas que vão poder fazer esse trabalho no interior, de formação política. Porque não podemos ter medo de trazer as pessoas para o PT. O que nós precisamos é trazêlas com formação. Um militante com formação vale por cem militantes comuns.”

O terceiro eixo, segundo ele, é fortalecer a comunicação interna. “A questão fazer a conexão entre os filiados do município com a direção estadual e com a direção nacional. Para podermos, através das mídias sociais, produzir conteúdo — seja estadual ou nacional — na defesa do governo, das políticas públicas que o governo está implementando, ou na pauta que o partido está debatendo. Nossos militantes precisam estar conectados, informados.”

  • PARTICIPAÇÃO ATIVA DA BASE

Vander propõe usar a militância ativa em vez de automação digital. “Eu acredito muito nisso. Então, esse é o terceiro tripé: a comunicação. Nós não precisamos de robôs, nós temos militância. O que precisamos é ativar essa militância, esses filiados da base, com informação, para que possam fazer a defesa — e também a luta, no sentido da atuação nas mídias sociais — em defesa do nosso governo, do nosso projeto.”

  • DESCENTRALIZAÇÃO PARA APROXIMAR MUNICÍPIOS E ESTADO

O deputado afirma que aproximação fortalecerá o partido local. “E uma última questão é a descentralização. Eu pretendo, a cada semestre, realizar uma reunião por região do estado com os diretórios municipais, com os vereadores da região, para encurtar essa relação, aproximar a direção estadual das direções municipais.”

Ele diz que a receptividade foi positiva. “Eu senti uma aceitação muito grande dessas propostas. Estou muito motivado para voltar a dirigir o PT. Estou muito empolgado. E acho que essa disputa está nos permitindo isso: debater, discutir estratégia, planejar o que queremos.”

ANÁLISE E DECISÕES SOBRE ALIANÇAS

Vander aponta que quaisquer alianças devem caminhar no sentido da reeleição de Lula em 2026. Vander aponta que quaisquer alianças devem caminhar no sentido da reeleição do presidente Lula em 2026. 

Vander considera o PED uma oportunidade de diagnóstico partidário e fazer escolhas definidoras. “Esse processo me serviu para fazer uma verdadeira radiografia do que o PT está pensando. Eu quero, até outubro, que a gente defina se continua no governo Riedel ou se sai. Nós entramos pela porta da frente e, se necessário, vamos sair pela porta da frente.”

Ele lembrou a importância da reciprocidade política. “Entramos com todas as correntes juntas defendendo a entrada no governo, até porque fomos determinantes na eleição do Riedel. Todos concordaram em entrar. E, se for necessário sair, se não houver reciprocidade, se o Riedel não abrir palanque para o presidente Lula, teremos que construir um projeto de ampliação do palanque do Lula. Pode ser até com candidatura própria. E ainda temos tempo para construir isso.”

Segundo ele, a decisão deve incluir diálogo com quem está no governo. “Precisamos ter respeito pelas pessoas que estão no governo, que nós colocamos, inclusive para discutir e debater com elas — se for o caso, para que saiam junto conosco.”

PT MAIS MADURO E COMPROMETIDO COM 2026

Vander avaliou que o PT evoluiu e amadureceu na sua trajetória. “Acredito que o PT está muito mais maduro hoje. Quando fui presidente, eu tinha que administrar a relação com o governo, porque nós éramos governo. Isso traz algumas facilidades. Tanto que, naquela época, fizemos 14 ou 15 prefeituras. Elegemos em 2000, só do PT.”

Ele destacou o desafio de conciliar governo e partido. “E não é fácil ser presidente em um cenário em que, em vários lugares, o PT teve grandes problemas em função de estar no governo e acabar em conflito interno. Naquele período, eu consegui, com a experiência, conciliar essas situações e usar o governo para fortalecer o partido. Tanto que saímos com mais de 100 vereadores e tínhamos entre 14 e 17 prefeituras do PT.”

Hoje, afirmou, o PT está reconstruindo sua estrutura com responsabilidade. “Hoje, estamos em um processo de reconstrução. O PT está mais calejado, mais maduro. Todos muito empolgados com a reeleição do Lula, conscientes de que estamos atravessando um momento muito difícil. A polarização continua. Precisamos construir a frente mais ampla possível no campo democrático para apoiar o Lula.”

O candidato lembrou o papel do Parlamento na governabilidade do governo Lula. “Vejo que o PT está muito mais maduro porque absorveu essa realidade. Há compreensão, na sua maioria, da importância disso. Temos consciência de que ganhamos o governo com o presidente Lula, mas somos minoria tanto na Câmara quanto no Senado. E qualquer governo democrático não tem condições de governar sem o parlamento.”

Por isso, diz, mobilização popular é necessária para aprovar reformas. “Isso obriga o presidente Lula a fazer inúmeras concessões, como temos visto. Mas precisamos colocar o povo nas ruas, mobilizar, para garantir as reformas que queremos. Especialmente agora, com essa questão do IUF, que é uma brecha que foi aberta.”

Ele acredita que o imposto deve comprometer mais os mais ricos. “Precisamos transformar isso em uma bandeira de massa, para o povo entender que quem deve pagar imposto é o andar de cima, que hoje praticamente não paga. E o governo está correto. O PT está respaldando isso. O governo fez certo em recorrer ao Supremo, porque essa medida não cabe ao Congresso. É um decreto presidencial. Tenho plena certeza de que o Supremo vai acatar o recurso que a AGU já protocolou — e que nós também apoiamos.”

REPRESENTATIVIDADE NO PT

Vander defende a inclusão proporcional das correntes partidárias. “Eu defendo, inclusive, que o Amandus é um bom quadro. Ele é vice-presidente do PT. Espero que seja indicado para compor. Nós temos proporcionalidade no partido. Ou seja, conforme o tamanho de cada corrente após o encontro, ela terá representação no diretório, na executiva.”

CONCILIAÇÃO ENTRE MANDATO E DIREÇÃO

Ele pontuou exemplos bem-sucedidos de conciliação de funções. “Essa questão de conciliar mandato e direção do partido foi muito debatida, mas dá para conciliar, sim. A deputada Gleisi Hoffmann coordenou a campanha presidencial enquanto era candidata à reeleição. O José Dirceu, em 2002, também era candidato a deputado federal e coordenou a campanha do presidente Lula — e foram duas campanhas vitoriosas.”

Vander sustentou que sua candidatura tem apoio unânime da militância; “Uma coisa que percebi por onde passei é que existe uma unanimidade em torno da minha candidatura ao Senado. O PT está muito motivado com a reeleição do Lula e com a possibilidade real de voltarmos a ter um senador. Isso me anima muito.”

COMPROMISSO COM A GOVERNABILIDADE E AS DECISÕES DO PT

Por fim, Vander reforça sua postura democrática e inclusiva. “Para finalizar, o que a militância pode esperar de mim como presidente é que vou conduzir o partido da forma mais democrática possível. Serei porta-voz das decisões da maioria do diretório.”

Ele considerou sua capacidade de conviver com diferenças internas. “Não tenho problema em defender meu ponto de vista, minha posição política. Mas, a decisão que o diretório tomar será aquela que eu, como presidente, encaminharei. Tenho muita facilidade em lidar com diferenças, como já lidei em momentos muito difíceis.”

E conclui lembrando sua trajetória administrativa pública. “Quando fui presidente e também coordenador do governo do Zeca, como secretário de Governo, todas as forças e correntes tiveram espaço no governo. Ninguém pode reclamar de falta de espaço. E isso foi muito fruto do comportamento do Zeca como governador, mas também do meu, como secretário de Governo, que coordenava toda a gestão.”