26 de abril de 2024
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A vida na rua

População em situação de rua ainda luta para romper invisibilidade e garantir direitos

Para garantir um pouco de dignidade a população em situação de rua, o projeto “Banho de cidadania” vai até eles com banho quente, roupas limpas, “kits de higiene” e serviços que ajudem na reintegração social.

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Tão próximos e tão distantes, eles andam perambulando pelas ruas sem destino e sem rumo em busca da dignidade que um dia perderam... Olhares desconfiados... Roupas sujas e rasgadas...  Cabelos ressecados... Pés descalços e calejados ... Mãos sofridas... Rostos envelhecidos pelo sofrimento... Corpo encurvado... Um cheiro desagradável causado pelos longos dias sem banho... e aos poucos vão se tornando invisíveis para grande parte da sociedade, que por medo e preconceito preferem passar bem longe deles.

A vida de quem acaba indo morar na rua não é nada fácil, e essa é a população que mais cresce em todo o mundo. Entre eles, há em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, ou seja, em algum momento da vida, devido a alguma situação ao extremo, romperam com a sociedade.

Em Campo Grande, não é preciso andar muito pra ver os chamados “mendingos” pedindo alguma coisa na frente de casa, nas praças, debaixo dos viadutos, nas casas abandonadas, nos sinaleiros... E quando chega a noite, alguns conseguem vaga no albergue, enquanto grande parte enfrenta os perigos da penumbra noturna com a esperança de ver o dia amanhecer.

No submundo das ruas, sobreviver a cada noite é um milagre. A cada momento, eles vencem a maior de todas as batalhas, consigo mesmo. E quando acordam do vício já estão lá mergulhados de novo na podridão do lixo catando comida, implorando centavos nos semáforos pra saciar a fome alimentar e do vício. 

Mais que um pão e um lugar pra morar, o sonho mais profundo deles é voltar a ter uma vida normal, mas este rompimento com a sociedade vai muito além de força e determinação, envolve amor e Fé, trabalhar a espiritualidade pode ser o caminho mais seguro pra que eles não voltem a cair. 

Muitas vezes, a falta de informações e compreensão sobre as características e as dinâmicas da vidas de pessoas que vivem nas ruas faz com que elas tenham direitos negados, inclusive quando buscam órgãos públicos. Uma das principais dificuldades que eles enfrentam perante algumas oportunidades, como de trabalho é a impossibilidade de comprovar um endereço fixo.

Um dos resultado das lutas do movimento foi a criação, em 2009, da Política Nacional para a População em Situação de Rua. Entre os objetivos estão assegurar acesso aos serviços e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação, Previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda; desenvolver ações educativas; proporcionar o acesso dessas pessoas aos programas de transferência de renda; implementar centros de referência especializados e estabelecer padrões dos serviços de acolhimento temporários. No entanto, a implementação dessa política depende da articulação entre a União e os estados que optam por aderir a ela.

E no aniversário dos 118 anos de Campo Grande, quem ganha o presente é a população em situação de rua, que comemorou no dia 19 de agosto, o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua. Um evento humanizado e voltado para esses "mendigos", realizado nesta sexta-feira(18), trouxe esperança ao coração daqueles em especial que se dedicam a tirar alguns minutos do seu dia para dar atenção a este povo tão carente e marginalizado pela sociedade, como é o caso da ex-moradora de rua Mara Alice dos Santos, ela saiu das ruas, formou-se em assistência social e agora ajuda os mais necessitados, e ressalta“ Morar na rua não é nada fácil e ninguém nasceu para morar na rua”.

Durante o evento, o prefeito Marquinhos Trad e o secretário de governo Antônio Lacerda, assinaram o decreto de instituição do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento das Políticas Públicas Voltadas à População em Situação de Rua e do termo de cooperação para efetivação do Projeto Banho de Cidadania entre a Prefeitura de Campo Grande, Secretaria Municipal de Governo, Subsecretaria dos Direitos Humanos, Àguas Guariroba, Consórcio Guaicurus e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Os esforços para atender essas pessoas em estado de vulnerabilidade, refletem a preocupação com o crescimento do número de pessoas que vivem nas ruas, devido à crise econômica. De acordo com Marquinhos Trad, “este é um projeto que não atende uma região, mas todas as pessoas que moram nas ruas. Toda a cidade será agraciada por um projeto que contará com a ação de pessoas solidárias.”

A representante do comitê Gestor de Políticas Públicas para os Moradores de Rua, Barbara Cristina Rodrigues, disse que a melhor coisa que o prefeito Marquinhos Trad fez foi a criação da Subsecretaria de Direitos Humanos, “Estamos aqui com várias entidades para criar políticas públicas para os moradores de rua. Muitas pessoas estão nas ruas porque alguma consequência levou a esta situação. Cabe a nós dar apoio e fazer este resgate e colocar de volta na sociedade”, avaliou.

Comitê

O comitê que terá a participação de representantes titulares e suplentes do Poder Público, Sociedade Civil e instituições que trabalham com a população em situação de rua. Terá o dever de acompanhar e monitorar as políticas públicas voltadas a essa população que estão em estado de vulnerabilidade social.  Colocando em prática a normativa que desde 2009 que regulamenta os comitês.

De acordo com o subsecretário da Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos  Ademar Vieira Júnior, o projeto “Banho de Cidadania” nascido de uma parceria entre Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos, Coordenadoria de Proteção a População em Situação de Rua e Políticas Antidrogas, Consórcio Guaicurus e Águas Guariroba.

 “A adaptação de um ônibus equipado com chuveiros de água aquecida, vestiários, vaso sanitário, pia, além de fornecer “kits de Higiene” e atenderá diariamente a população em situação de rua proporcionando condições para a higiene pessoal básica e atendimento de equipe multiprofissional com informações sobre demais serviços ofertados pela rede municipal tendo isso como um primeiro passo do processo de reintegração social”, frisa Ademar Vieira Júnior.