26 de abril de 2024
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Editorial

'O que não se renova, gasta', ou 'Porque não deu certo a manifestação'

CUT, UNE e MST, entre outros, realizaram, atos contra o projeto de lei dos contratos de terceirização. Não conseguiram sensibilizar mais que 14 mil manifestantes, segundo os organizadores, ou 6 mil, segundo as Polícias Militares.

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Cansou, bastou, chega. A esquerda brasileira não consegue mais sensibilizar ninguém, esteja certa ou não. Durante manifestação realizada ontem (7), em 17 Estados mais o Distrito Federal, convocada e organizada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), União Nacional dos Estudantes (UNE) e diversas outras entidades menores, e que protestavam contra o projeto de lei que regulamenta os contratos de terceirização no mercado de trabalho, conseguiu reunir apenas cerca de 14 mil, segundo cálculo dos organizadores, e 6 mil manifestantes, segundo cálculo das Polícias Militares.

Que peso teve isso? Nenhum. Serve apenas para satisfazer as antigas ideias dos que acreditam que ainda é necessário “marcar posição”, que era válido nos suspiros finais da ditadura, mas que hoje perdeu o sentido.

O que significam esses números para uma Central como a CUT que reúne e controla, provavelmente, a maioria dos sindicatos no Brasil, ou a UNE, que já foi combativa e hoje vai a reboque de pequenas agremiações políticas de muitas teorias e ideologias, mas tão distante da realidade, ou o MST de mínimas conquistas porque seus integrantes são necessários como massa de manobra? A resposta poderia ser simples: um esvaziamento. A resposta pode ser outra: formaram e representam um gueto de radicais dentro da própria esquerda.

Já não importa o objetivo das manifestações, sequer interessa se é e quão válido propósito, a questão é que as organizações de esquerda estão desgastadas. O sindicalismo se esgotou. O melhor promotor, ou cabo eleitoral, das esquerdas foi a Direita no poder; hoje esse quadro se inverteu. A questão, e não se pode afirmar que seja uma boa questão, é que a 'direita' se moderniza, se adapta, se renova; a 'esquerda' não, permanece perdida entre o meio do século XVIII e o início do século XX.

O que representa hoje, o sindicado para o trabalhador ? Ninguém o quer. O queixume em relação à obrigatoriedade da contribuição sindical é geral. Porque o que se vê é o sindicato ou associação, qualquer que seja, abranja qual universo for, sustentando uma classe dirigente de estranho vampirismo que se sustenta primeiro com o suor do trabalhador e, se necessário, com seu próprio sangue.

A partir da partidarização dos sindicatos e suas centrais, o trabalhador cada vez mais se sente usado. Nosso modelo é antigo e antiquado, não evolui porque está atrelado à 'esquerda'. Aliás, os rótulos estão desgastados aonde quer se use, mais ainda no Brasil que sem chegar a ser capitalista, está muito distante de ser socialista. Nós temos um capitalismo próprio e burro e um socialismo burro e próprio.

Enquanto um e outro grupo ou facção tenta conquistar e reter o poder, o povo tem ido às ruas com a clara e evidente intenção de mudanças. Não derrubar um em detrimento de outro, não fazer o poder trocar de mãos, querem uma mudança real, uma forma nova de repensar mais que o país, a Nação Brasileira. Esse é o objetivo, expresso da forma que for, nos mais variados dizeres de cartazes e faixas. O espírito é: Vocês não estão sendo pagos para pensar, mas para repensar.

A manifestação de ontem reuniu gatos pingados por um ponto, por isso reuniu interesses de poucos, bem poucos, menos do que mostram as contagens oficiais ou oficiosas. De todos os que compareceram, boa parte estava alheia à proposta. Foram porque fazem parte disso, apenas isso. Os organizadores, se não por outros interesses pessoais escusos, acreditam realmente que “marcar posição” chega a ter grande significado. É melhor pensar que sejam idealistas.

Em tempo:

Houve confronto com forças policiais, infelizmente, e isso não pode denegrir a imagem dos marchadores, mas mancha a imagem dessas forças. Uma reunião de massas sempre é perigosa, ainda mais quando alguns que ali estão pretendem a glória de imolar-se. Cabe, nesse caso salientar, que o que houve foi o despreparado das forças policiais, elas sim as que deveriam estar preparadas, como profissionais que são, para lidar com essas situações sem chegar a extremos.

Que no dia 12, assim como ocorreu nas manifestações de 15 de março, um e outro lado saibam agir com cautela.

Por fim:

O plenário da Câmara aprovou na noite de ontem (7) o requerimento para votação em regime de urgência do projeto de lei que regulamenta a terceirização (PL) 4.330/04, de autoria do ex-deputado Sandro Mabel. Foram 316 votos a favor, 166 contra e 3 abstenções. Com a aprovação da urgência, o PL está pronto para ser votado antes de outras proposições que estão na pauta de votações da Câmara.