18 de março de 2024
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CÂMARA MUNICIPAL

Debate sobre retorno das aulas e aula sobre vacinação na Palavra Livre

Parlamentares visam preservar alunos e profissionais da educação e André Luis dá parecer técnico profissional

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Durante o espaço da "Palavra Livre", da sessão desta 5ª feira da Câmara Municipal de Campo Grande, parlamentares opinaram diferente a  respeito do retorno das atividades educacionais presenciais. Entre as partes, foi concordado apenas que os professores, administrativos e estudantes devem ser preservados.  

Profº Juari (PSDB) abriu o debate, perguntando sobre a conta do distanciamento social para o cognitivo do aluno da rede privada e pública. Ele levantou que os alunos da rede privada estão sendo atendidos, e os da rede pública, prejudicados.  

"Não podemos ignorar isso. Se já era difícil o filho do pobre entrar nos cursos, agora piorou. Quem pode garantir a eficiência do ensino remoto? Sou professor e não acredito nessa eficiência. Como se alfabetiza uma criança à distância? Quem pode garantir que, até julho, os professores e administrativos estarão imunizados? Temos que levar uma discussão séria dentro da ciência”, disse ele

  Ayrton Araújo (PT), Prof° Riverton (DEM), Tiago Vargas (PSD) e Valdir Gomes (PSD), que convidou o parlamentar a visitar EMEI's que - segundo o vereador - não tem nem janela para colocar 40 crianças juntas. “O rico pode pagar e o pobre não, não é isso que estamos discutindo. É sobre a vacina e as situações das EMEI's para esse retorno que está sendo pedido". 

Segundo o argumento do Profº Riverton, a realidade das escolas municipais é diferente das privadas. "Quem vai pagar pelo prejuízo cognitivo na vida das crianças? Nós vamos recuperar, sim, pois nossos profissionais são capacitados. Eles estão fazendo com que o ensino chegue nas casas dos alunos”, comentou ele, que apontou contradição na fala do colega de Casa, que se mostra "favorável que volte as aulas presenciais, a partir do momento em que todos os profissionais estiverem vacinados e defende o retorno às atividades presenciais, sem imunização".

"Não sei se o sr. tem conhecimento a respeito da educação municipal, acredito que sim. Mas a realidade das escolas municipais é totalmente diferente das privadas. Torço para que o senhor defenda, sim, a bandeira de que a gente só volte às aulas presenciais com segurança para os servidores. Com certeza a vacina vai chegar em Campo Grande, que será uma das pioneiras da imunização", pontuou Riverton. 

Já Tiago Vargas comentou seu espanto e estranheza sobre a fala do vereador, profº Juari. "O secretário estadual de saúde quer que seja feito lockdown geral, enquanto a de educação de vosso partido (PSDB) quer que as aulas retornem, então, se o próprio pessoal do seu partido, que administra nosso Estado não está entrando em consenso, estaremos jogando a responsabilidade no município? É isso? Até o Secretário de Saúde do partido do Governador, seu partido, no Estado de São Paulo, quer fazer lockdown geral, enquanto em Campo Grande não".

A volta presencial das aulas já foi tema de discussão na Casa de Leis, em 9 de fevereiro, quando a Câmara promoveu reunião sobre o tema, com a presença da secretária municipal de Educação, Elza Fernandes. Esclareceu que as aulas seguem de maneira remota, acrescentando que a Secretaria já está fazendo o planejamento para o retorno de forma híbrida (parte da turma no ensino presencial e parte no on-line) antes do dia 1º de julho, atendendo as normas de biossegurança.  

Em sua parte na Palavra Livre, Marcos Tabosa levantou que, durante quatro anos de mandato da prefeitura de Campo Grande, o gestor Marquinhos Trad não atendeu à demandas básicas das instituições de ensino, como EMEI's e CEINF's, dizendo que reformas de ampliação, reestruturação de banheiros e reparos gerais como a troca de portas e janelas, não foram feitas.

Líder do prefeito na Câmara, Beto Avelar rebateu a fala de seu colega parlamentar. "Com todo o respeito, o vereador Tabosa, acho que o sr. não está morando em Campo Grande. Sou prova da forma como pegamos a administração. A Funsat, quando assumimos, estava com aluguel atrasado de seis meses da gestão passada, sem falar o que é público e notório de como estava a cidade. Tinha 16 CEINF's fechados que foram abertos nessa gestão do prefeito Marquinhos Trad", afirmou. 

Já em resposta ao Profº Riverton, que citou a inclusão de professores no Plano Nacional de Imunização, o professor Juari destacou seu papel como parlamentar. "Aqui tenho liberdade, o problema chama-se hermenêutica. O sr. não interpretou o que eu quis dizer. Deixei claro para o sr. meu posicionamento, só que trouxe para essa tribuna - que é o meu dever enquanto alguém que pensa - alguns questionamentos para a gente levar para nossa casa para se fazer pergunta. O Sr. disse que foi à Brasília colocar os professores no Plano Nacional de Imunização. Professor, pelo amor de Deus. 513 deputados, 81 senadores... um vereador de Campo Grande mudou o PNI e incluiu? Ah, para! Temos que ser bem técnicos e pautar pelo princípio da verdade"  

OUTROS TEMAS

Acessibilidade, como inclusão de projetos que facilitem a disseminação da Língua Brasileira de Sinais, pelo vereador Otávio Trad e, ainda, o professor André Luis detalhou pontos técnicos a respeito de vacinação e imunização.

Docente na disciplina de imunoprofilaxia e imunoterapia ele explicou: "Vacinação é o processo físico, imunização é quando o organismo aceita aquela substância. Quando uma vacina é boa, o índice de proteção é 95%. A Coronavac, aparentemente, tem grau de proteção em torno de 51%. Quer dizer que, a cada 100 pessoas que tomarem a vacina, 51 estarão protegidas".

Quanto à primeira aplicação e o reforço dado, ele explicou que a primeira dose tem função de fazer aparecer, no organismo, células específicas que vão defender contra aquele parasita e patógeno específico. "Passado 10 ou 15 dias já temos um nível de proteção, que não é suficiente para imunizar. Na primeira dose você gera uma população de célula que não tinha, e na segunda irá produzir um número suficiente para bloquear o vírus. A imunização só ocorre de sete a dez dias depois da 2ª dose. Quem tomou a primeira foi o jogador que chutou a bola na trave, mas não foi gol", frisou ele.

Com mestrado na área de doenças tropicais e saúde pública internacional, ele repudia a maneira que está sendo feita a imunização no Brasil e tece uma analogia. "Imagina que temos cinco casas pegando fogo e um caminhão de bombeiros com água para apagar. O que estamos fazendo no Brasil? Jogando um pouquinho de água nas cinco casas, isso vai redundar em que todas as casas vão queimar do mesmo jeito. Tínhamos que trabalhar com foco. Acho que a política de imunização do Brasil é falha e seria importante uma diferente".

Ele reitera que, numa pandemia - que se caracteriza pelo descontrole de uma doença numa região -, não existe uma situação ideal. "Todo mundo sai perdendo. Não temos nenhuma saída técnica nem política adequada. Acho que nós nos julgamos muito entorno disso, mas não temos uma situação que o mundo inteiro está sofrendo com a pandemia", finaliza ele que sugeriu como solução para a Capital, uma antecipação na compra de vacinas, mesmo com a promessa feita pelo Governo Federal, para garantir a cobertura vacinal e proteção da população.