18 de maio de 2024
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CRIMES ELEITORAIS | CORUMBÁ (MS)

Laboratório dos Iunes era usado para angariar votos em Corumbá, diz site

Serviços eram pagos com verba pública e entregues à população como "caridade"

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Suspeitas de compra de votos realizadas por agentes públicos em Corumbá (MS) visavam favorecer vereadores da cidade nas eleições municipais de 2020 e ainda, estaria envolto ao esquema o laboratório da família de Marcelo Iunes, prefeito da cidade, que também era beneficado com o esquema. A reportagem é do Folha MS.

Mostramos aqui no MS Notícias que tudo veio a tona após a prisão de um servidor público em outubro de 2020, saindo do comitê eleitoral de Marcelo Iunes, com bloquinhos de dinheiros errolado ao nome de eleirores.  

Conversa entre assessor e Secretário Municipal referente a pagamentos ordenados por Marcelo. Foto: Folha MS Conversa entre assessor e Secretário Municipal referente a pagamentos ordenados por Marcelo. Foto: Folha MS 

Com o homem, a Polícia Federal apreendeu um celular. Esse continha mensagens que indicaram o uso da máquina pública para privilegiar o acesso de eleitores cooptados a serviços de saúde, benefícios financeiros e até em troca de marmitex. 

Esquema foi colocado em ação para arrumar vaga a eleitor que prometeu Esquema foi colocado em ação para arrumar vaga a eleitor que prometeu “gratidão”. Foto: Folha MS

O site Folha MS diz que um dos mecanismos que mais chamou a atenção dos investigadores foi a utilização de um contrato mantido entre a prefeitura municipal de Corumbá com o laboratório de análises clínicas Citolab, ainda em vigência no período pré-eleitoral.

Citolab é o nome fantasia da empresa de razão social “J B A IUNES”, inscrita no CNPJ 09.476.035/0001-76, sob a titularidade de José Batista Aguillar Iunes, irmão do atual prefeito de Corumbá Marcelo Iunes.

Pedidos para agilidade na realização de exames eram encaminhados por vereadores aliados. Foto: Folha MSPedidos para agilidade na realização de exames eram encaminhados por vereadores aliados. Foto: Folha MS

No teor, as mensagens flagradas no celular apreendido pela Polícia Federal comprovaram, diz o Folha MS, o “modus operante” do grupo.

Segundo o site, dia 29 de maio de 2020, o servidor comissionado recebeu um pedido vindo de uma eleitora, para que ele se utilizasse de sua influência para conseguir uma vaga de internação para da mãe [da eleitora].

O pedido, então, foi repassado para outra servidora que atuava dentro da central de regulação e uma hora depois ela retornou a mensagem confirmando já ter conseguido a vaga solicitada para internação.

Em outra situação, um vereador solicitou ao servidor urgência no atendimento de pedidos de exames que seriam para pessoas que chamou de “Pessoal Nosso”.

O servidor respondeu que naquele pedido especificamente, os exames que são realizados pelo laboratório Citolab são gratuitos, mas que outros que precisam ser realizados fora da cidade, o esquema cobraria apenas o “preço de custo”. Na mensagem, o servidor ainda revela que Marcelo (Prefeito) seria o dono do laboratório e a pessoa responsável por autorizar a realização dos exames.

VEREADOR: bom dia, [nome do servidor] eu preciso atender a mulher nesses dois exames pô, é pessoal nosso aí, meu e do Marcelo. Tenta fazer esse agendamento aí e me dá uns dias pra pagar, organiza isso daí.”

SERVIDOR:  “[Nome do Vereador], é, então, como eu falei pra você, esse é o padrão que a gente faz pra todos entendeu, até para as pessoas assim que são já eleitor de Marcelo há muitos anos, a gente já até explica como que funciona. Os exames que fazem lá no laboratório dele, ele autoriza e não cobra nada, esses exames que são especiais que vai pra fora, ou seja, coleta o sangue da pessoa aqui e manda fazer lá no Paraná, que que ele cobra? para ajudar, preço de custo, entendeu? O preço que cobram dele lá, ele não coloca um Real em cima, entendeu? É, aí essa questão lá do financeiro, é, a gente só passa o valor. Aí você teria que ir lá no laboratório, tá, eu vou falar com a moça, e aí você falou que quer fazer no cartão né, aí você vai lá e passa o cartão lá, entendeu? Eu vou falar com a moça aqui aí eu vou te enviar o nome dela e na segunda-feira você fala direto com ela lá, tá bom? Ou você manda algum assessor seu, tá bom? Eu vou conversar com ela agora aqui e já te dou um retorno aí!”

Já no período eleitoral, o vereador em questão solicitou ao servidor um novo exame médico para terceira pessoa, que o atende, passando as orientações devidas para a realização. Ao contrário do que ocorreu com a grande maioria da população, que precisa, geralmente, aguardar um longo período para realização de exames, o procedimento solicitado ocorreu no dia seguinte, 28/08/2020.

O Folha MS, diz que os pedidos se repetiram sempre da mesma forma, tendo o servidor que teve o celular apreendido pela Polícia Federal durante a campanha, como mediador entre vereadores que participavam do esquema e potenciais eleitores, junto a servidora que atuava dentro da central de regulação (Casa Verde), para agilizar os favorecidos que passavam a ser atendidos sem passar pela fila de espera a que se submetem a maior parte da população.

“Os exames são pagos normalmente pela prefeitura com os recursos públicos, mas são entregues à população a título de “favor” ou “caridade” por parte dos agentes públicos, os quais solicitam apoio político ao povo em contrapartida.”, apontou o relatório da Polícia Federal sobre os fatos.

SECRETÁRIA-ADJUNTA ATUAVA COMO CABO ELEITORAL

Após ser acionada, Secretária-adjunta entrava em ação e rapidamente enviava a marcação dos exames e procedimentos solicitados pelo grupo. Folha MSApós ser acionada, Secretária-adjunta entrava em ação e rapidamente enviava a marcação dos exames e procedimentos solicitados pelo grupo. Folha MS

Conforme o site Folha MS, a troca de atendimento por apoio político ficou evidenciada ainda durante a perícia técnica realizada no celular apreendido pela Polícia Federal com o servidor comissionado da prefeitura. Em cinco vídeos foram encontradas as provas de tais situações. Encaminhados pela então secretária-adjunta da Saúde, colocada para atuar dentro da central de regulação.

Nas imagens as pessoas eram orientadas a fazer uma declaração verbal de apoio ao atual prefeito Marcelo Iunes e no final do vídeo, mencionar que autorizava a reprodução do mesmo em campanha eleitoral.

Para PF, ficou evidente a atuação da secretária-adjunta, a quem deveria ser somente uma técnica da saúde, na qualidade de cabo eleitoral de Marcelo Iunes e vereadores aliados, atuando de dentro da estrutura pública em busca de apoio político.